Hoje calhou almoçar com alguém que não tem a nacionalidade portuguesa. E calhou falar - quase foi um monólogo - sobre esses anos idos que em Portugal já quase a ninguém apetece querer lembrar.
Tudo começou, imaginem, ao me ser comentado que uma amiga comum, quatro anos mais nova que eu, se reconhecia em tudo na bendita série televisiva "Conta-me Como Foi". Refutei um pouco a rir, que o início dos anos setenta em Lisboa não foi bem igual em Ovar, onde eu então vivia. Por outro lado, essa nossa amiga comum fez dez anos em 78, e eu em 74, anos pouco comparáveis sobretudo ao nível político mas não só... para começar eu tinha portanto conhecido a escola primária antes do 25 de Abril , com castigos corporais frequentes, e ela não.
Conversa puxa conversa, acabei a contar o caso do jornal "República", e possivelmente não lhe fiz justiça, com tudo o de poético e sórdido e excessivo e irreal que ele representou, edição princeps de um ano de surrealismo à portuguesa de que só acordámos a 25 de Novembro.
Fui viajando no tempo e acabei no "consulado" Sá Carneiro, esses dois anos apaixonantes e ainda hoje impossíveis de historiar de uma forma neutra. Sim, quem consegue ler sem julgar e portanto tomar partido sobre a história desses primeiros tempos de Cavaco Silva ministro, a governar economicamente o país em contraciclo - com razão, sem razão? Quem consegue hoje retirar algum senso da famigerada "lei Barreto" que começou a destruir a famosa "Reforma Agrária" e tentou criar - pelo que sei sem qualquer sucesso - algum minifúndio em terras retiradas às famosas UCP's, tempos cuja tensão levaram possivelmente a que o nosso eminente sociólogo se desgostasse definitivamente - e já lá vão trinta anos... - da política activa e se dedicasse à fotografia, à escrita, aos colóquios e à têvê, para além de... mais nada!
Anos loucos esses que me permitiram sobreviver a mais um almoço a dois...
Descarada aldrabice
Há 1 hora
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