segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Ó Miguel...

O ministro Miguel Macedo disse que em Portugal há muitas cigarras e poucas formigas. Sendo verdade que os portugueses trabalham mais do que o europeu médio, ó Miguel, que merda foste dizer?
Agora só para esclarecer, foi como "cigarra" ou enquanto "formiga" que recebeste um subsidio de deslocação por seres deputado por Braga apesar de admitires ter casa em Lisboa? Também é curioso consultar a tua biografia - és também um produto JSD - pouco mais velho do que o Pedro Passos Coelho - e, fora do partido, meu advogado de merda, não fizeste nada!

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

As migalhas.

Metade dos desempregados neste momento já não recebem o subsídio de desemprego. De que vivem, então? Quando se fala do Rendimento Social de Integração porque não se menciona o seu valor médio e explica-se como pode alguém integrar-se onde quer que seja com esse valor?
 
A reorganização e "simplificação" dos escalões do IRS não aumenta, diminui o carácter progressivo do imposto em questão. O "encosto", para variar, atinge sobretudo a classe média e a média-baixa. Hoje, cada vez mais, temos de alargar a definição portuguesa para "classe média"...
 
Em Portugal chamar a alguém "rico" é tabu. Não procuremos mais nomes mas tentemos fazer umas contitas: vamos imaginar que temos 20000 ricos "a sério". E que em 2013 - excepcionalmente - pagam 50000 euros extra de IRS. Um bilião de euros!
 
I rest my case.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

E então o que correu mal este ano?

Grande parte do bolo dos impostos nasce dos rendimentos do trabalho. Ganhamos bastante menos, pagamos menos.
A economia portuguesa também encolheu, produzindo menos impostos. E a economia encolheu, despedindo gente. Há desempregados como nunca houve. Estes também não produzem impostos.
As importações desceram imenso porque Portugal tinha-se transformado nos últimos vinte anos numa grande central distribuidora e de retalho do que se importava para nós gostosamente consumirmos. Esta indústria encolheu porque o dinheiro desapareceu.
As exportações têm teimosamente e gloriosamente subido mas comparativamente ainda somos um país pouco exportador. E as exportações não subiram porque os salários desceram. E começamos a exportar diferente.

A desqualificação portuguesa.

A pergunta que hoje se faz sobre cada português - nos meios onde tudo se decide - é "para que serve". Sim, este, aquele, esta, aquela, para que serve? Os nossos doutos chegaram à conclusão que Portugal tem o povo errado. Para aí metade dele "não serve para nada". Destes mais de metade, falando à Vancouver, Álvaro, "don't know shit!" Descodificando, estamos a falar da 4ª classe. Os outros, coitadinhos, tiraram os cursos errados!
Quem nos diz que está surpreendido com o desemprego mente. E mente descaradamente. O desemprego é a enzima mais rápida a destruir todas e quaisquer garantias laborais. Sabe quem vive ou viveu em Espanha nos tempos do desemprego a 20% que então as garantias laborais eram zero, havia quem contratasse à 2ª para despedir à 6ª para voltar a contratar à 2ª. Os nossos doutos acham que nós - porque só temos a 4ª classe, ou porque escolhemos mal o curso - não merecemos melhor. Isto é foda à bruta e sem lubrificante. Pena é existir um pouquinho de verdade no 1º parágrafo. Mas não se pode mudar um povo, pois não? E agora?

domingo, 16 de setembro de 2012

A TSU e o resto.

Ontem muita gente foi para a rua. O tom foi quase celebratório - existe esta palavra? Não percebi porquê. Ainda ninguém me apresentou uma alternativa minimamente credível à malfadada Troika. A TSU  foi uma proposta desajeitada e, mais uma vez, socialmente iníqua. Mas o dinheiro vai ter que saltar de algum lado, e não vai ser do ordenado do António Mexia, por muito socialmente insensível que ele esteja a ser. O problema está sempre no dinheiro! O dinheiro que Portugal parou de poder gastar mas com uns cinco a dez anos de atraso.
Dinheiro, dinheiro, dinheiro. E Portugal é um país não demasiado capaz de o gerar. A Europa não está bem, é como uma família com as contas a deslizar para o vermelho. Irmãos vinte e sete, e desavindos. Portugal é não um dos mais novos mas sim um dos mais pobres. O "core" mais rico da família não sabe muito bem o que fazer connosco e, secretamente, pondera abandonar-nos á nossa sorte. A indecisão nasce de quanto esse gesto lhes pode custar a eles, não sendo nós a preocupação principal. Nós sim devemos preocuparmo-nos connosco. Endireitar as contas tentando que isto se faça de forma o mais socialmente justa possível. Não faltando ao respeito ao povo todo que somos nós. Só endireitando as contas poderemos endireitar as costas e olhar em frente. Todo o país - incluindo os que mais sabem e, muito, os que mais têm - deve empenhar-se nesta ressurreição. É costume dizer-se que nestas ocasiões mais do que nunca, um país precisa de um timoneiro em que acredite de forma a ver "a vida para além da crise", a "luz no fundo do túnel", uma vida e uma luz portuguesas e, esperemos bem, europeias. Pedro Passos Coelho não tem - e esta última semana demonstrou-o à saciedade - a altura, a envergadura, a sensibilidade, a inteligência para ser o timoneiro que Portugal hoje precisa.
Estamos então no mato e sem cachorro.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

RAN3 – O ÚLTIMO NÍVEL







Manual de Instruções para o Jogo do Ran (Rápida Ascensão Nacional)


Este jogo pode e deve ser jogado por, apenas, um jogador... de cada vez.

Dica: Para ter sucesso, o jogador deve procurar manter o seu baixo nível habitual.
Advertência: Este jogo provoca forte dependência e proporciona proveitos inesperados e irreversíveis.
Nota: Em caso de dúvida, aconselhe-se consigo próprio.


Ran1 – O Principiante

Corre, salta, anda, nada. O cansaço não passa por ele. É novo, novato e noviço. O seu mundo é um comício, um congresso ou um jantar de militantes. Tanto faz.
A sociedade é aquilo que os seus ídolos dizem: tal e qual. A política é a vida, a vida é o partido do presidente da câmara e o presidente da câmara é deus, sem tirar nem pôr.
O seu sonho maior é ser o mais igual possível ao mestre estampado nos cartazes.
Mas, ainda é cedo. Para já, o seu catecismo é um livro único, adoptado sem dúvidas nem comentários.

Corre, salta, anda, nada. De vez em quando, fala com as palavras iguais às do seu deus, à espera que esse mesmo deus o puxe para junto dele e lhe entregue uma fatia de céu.
Corre, salta, anda, nada. Está no primeiro nível do jogo. Os bicos dos pés são o seu suporte natural e a bajulação é uma questão de princípios e um modo de sobrevivência.
Assume trejeitos de libelinha atarefada, de melga nervosa, de pardal irrequieto, de rato de porão.
Começa a distanciar-se das emoções, controla os sorrisos e disfarça a ganância latente. Tudo, com uma facilidade estonteante e rigidamente ensaiada.
Com o decorrer do tempo, veste-se melhor e torna-se quase imune aos valores essenciais. Um dia, passa de nível.

Ran2 – O Bom

Ainda corre, ainda salta, ainda anda, ainda nada. Está no nível dois do jogo. É um sábio, um sabichão, um sabidola. O seu mundo é uma montra em constante movimento, um carrossel de teorias milenares e sarcásticas, um chorrilho de promessas ou de coisas parecidas com vigarices.
Nesta fase, a sociedade pode tornar-se naquilo que ele próprio diz. Para isso, esforça-se por ser cada vez mais altaneiro, mais ridículo e mais influente. A política é a vida e a vida é o parlamento, paredes-meias com um qualquer poleiro do partido, e o presidente do partido é deus, sem tirar nem pôr.

O jogo começa a correr bem. O tipo está quase um ás em matéria de trapaças. O seu maior sonho é passar despercebido com os seus sacos de cor azul. Já não é cedo para arrepiar caminho em direcção ao éden. Agora, é ele próprio quem inventa as suas bíblias e limites. Os catecismos ficaram para quem vem atrás, tentando imitá-lo.

Ainda corre, ainda salta, ainda anda, ainda nada. De vez em quando, e bem à sua maneira, dá nas vistas e nos noticiários, falando mal de quem não o apoia, falando bem dos que o aplaudem e falando melhor dos que, ainda, estão mais acima.

E, assim, com a consciência no bolso e a honra na pasta, lá vai, jogo adiante, ganhando mais vidas de cada vez que abate ou tenta abater alguém. A corrupção e a mentira são a sua base de sustento obrigatório e o seu mundo está nas autarquias, no miolo dos gabinetes, nas instituições públicas e nos quadros superiores de um qualquer sítio importante. É aí que o jogador repousa, enquanto o alimentam com dinheiros e palmadinhas nas costas. Um dia, passa de nível.


Ran3 – O Mestre

O último nível. Não há mais nada para lá deste patamar. Nada que seja digno de importância. A partir daqui já não há quem corra, já não há quem salte, já não há quem nade. Já não é preciso. Não há ruas nem caminhos a percorrer nem mares nem rios para atravessar. O mundo é um pântano cheio de curvas, eleições e moscas. Segundo a Constituição, quem mora aqui, é senhor das suas coisas e das coisas dos outros. É mais forte do que deus, mesmo que deus seja o presidente da câmara.

Nesta fase, o jogador move-se, apenas, entre dois pontinhos pequeninos de um ecrã minúsculo e negro.
Num dos pontos situam-se as delícias das viagens ao Índico e no outro ponto, a vaidade das Ran3 (rentrées). Estar num dos lados é, perfeitamente, igual a estar no outro.
Para além dele, ninguém se importa.

Ctrl+Alt+Del, já!
Já!...

esquerda, direita...



Fulano é um homem de esquerda. Por isso, naquela reunião importante, quando viu o sujeito, à sua direita, tomar aquela atitude de esquerda, não se conteve e disse:

“- Então o senhor, um homem de direita, sentado à minha direita, toma uma atitude de esquerda?
Que há-de dizer este tipo, sentado à minha esquerda, que tem atitudes de esquerda, ainda mais à esquerda do que as minhas?
Se calhar, ele ainda se vai lembrar de dizer que quem é de direita sou eu. Que as suas ideias são mais esquerdas do que as minhas, etc., etc..
Com franqueza! Acho melhor que reconsidere a sua posição, homem!
Ou revê a sua atitude, e, consequentemente, altera a sua opinião ou teremos aqui um problema, pontual é certo, mas significativamente elucidativo para quem, ávido de fofocas, não perderá, de modo algum, esta oportunidade de questionar peripécias como esta, muito pouco dignas de quem, como o senhor, prometeu defender interesses de um determinado quadrante.
Ao falar de fofocas, refiro-me aos jornalistas. Esses desiluminados fazedores de não-notícias.
Aos jornais e aos directores de jornais que se aguentam à esquerda quando o poder é de esquerda, mas que se cimentam à direita quando o poder é de direita.
E olhe que eu tenho um cagaço, exacerbado, de tudo o que mexe com opiniões escritas, feitas sabe-se lá por quem e que, quer seja à direita de mim ou à esquerda de si, atinge as pessoas bem no centro das suas posições.
Além disso, o respeitado colega já reparou que, pondo de parte tudo e todo o resto e estando eu obrigado, também, a tomar uma atitude, me vejo agora circunscrito ao tremendo problema de não ter espaço político, partidário e de coerência individual para me manifestar de acordo com a minha posição?
Não viu, não! Eu sei que não reparou nisso, mas o meu dever passa por colocar-lhe esta minha preocupação. Espero que não leve a mal.
Mais a mais, não será por isto que, numa próxima oportunidade, lhe ocorrerá tomar atitude semelhante. Pois não?"

“- Certamente que não. Não será por causa disso. São outros, os motivos.” – disse o sujeito à direita. E continuou:

“- O facto de estar à sua direita confere-me o direito de o ver, a si, como uma referência fundamental. Oriento-me, por si, por exemplo, quando quero saber, rapidamente, onde é o meu lugar.
E, quer o senhor queira, quer não queira, já não podemos passar um sem o outro. De tal modo que, por vezes, sinto-me tentado a comungar do seu discurso.
Quanto mais não seja, para que, à minha direita, não coloquem nunca, outras cadeiras.”