terça-feira, 26 de junho de 2012

Este mundo, não outro?

Neste mundo que temos, a Europa também se divide, como o Mundo, em Norte e Sul. E, como no Mundo, há mais dinheiro a Norte que a Sul. Nós, Portugal, que no Mundo estamos a Norte, na Europa estamos a Sul.
Diz-me onde está o dinheiro, dir-te-ei para onde irá a história. O dinheiro continua a Norte, e mas começa a haver uns maços de notas simpáticos a Sul - Brasil, India, Angola - e, sobretudo, a Leste - China.
O Norte de Portugal fica sobretudo em Lisboa e monta a 1-2% dos portugueses, os tais a quem nenhuma crise sacode nem abana. Os restantes 98-99% estão a Sul toda a semana.
O Muro de Berlim caiu porque a Leste - da Europa - acabou o dinheiro. Hitler subiu ao poder porque o dinheiro estava a fugir, a fugir, a fugir, e era preciso arranjar culpados.
Isto de ser o Sul do Norte é fodido. É como ser o irmão mais novo, remédio não tem... e os calduços sucedem-se. Como não vamos ser "jangada de pedra", e se fosse possível um outro mundo?

domingo, 24 de junho de 2012

se







se esses senhores tivessem  os seus familiares desempregados e em tormentas matemáticas
económicas e trapézicas para conseguirem os mínimos olímpicos da sobrevivência difícil
e se as suas paisagens tivessem as mesmas cores monótonas cinzas negras dos quotidianos dos outros nós…

se esses senhores fossem empresários normais com uma vocação vulgar para o trabalho em circunstâncias e desafios enormes e complicados e sem apoios e sem compreensões e sem a mínima das mínimas perspectivas de serem ouvidos ou tratados como gente…

se esses senhores fossem trabalhadores normais daqueles que saem todos os dias de suas casas cumprindo uma roda gigante de predicados vários e de incompreensões também várias e que mesmo assim não encontram refúgio para as suas tristes jornadas cheias da frustração permanente de não verem as suas vidas nem as dos seus patrões abrangidas pelo sucesso…

se esses senhores fossem cidadãos normais daqueles que gostam da pátria mas a sério e sem memorandos desentendidos…

se esses senhores  fossem inteligentes normais pessoas principalmente pessoas e tivessem um minuto um só minuto de lucidez apartidária desinteressada e sã…

talvez isto não estivesse tão assim.




in "Maia Hoje", 22.06.2012

quinta-feira, 21 de junho de 2012

O Licenciado.

Miguel Relvas, nascido em 1961, licenciou-se na Lusófona em 2007 em Ciência Política e Relações Internacionais.
Need I say more?

quinta-feira, 7 de junho de 2012

E a Espanha, meus senhores?

O Bankia é a Caja Madrid mais a Bancaja - a caixa da Comunidade Valenciana - e outros cinco penduricalhos para disfarçar. Portanto, o Bankia foi uma operação de maquilhagem de duas caixas enterradas até ao pescoço nos negócios autonómicos de duas regiões - Madrid e Valencia - sempre dominadas pelo PP, que não funcionou. A Caja Madrid e a Bancaja - ie, o Bankia - era o banco espanhol com mais propriedade imobiliária, toda sobrevalorizada, inflacionada, tóxica. É da mais pura justiça que esta bolha imobiliário-bancária viesse a rebentar nas impolutas mãos de Rajoy.

Como me aborrece o Borges...

António Borges é uma estrela de filme português, por muito que isto lhe custe. Os salários dos portugueses já desceram e muito. Mas Borges tem de refogar a coisa: "Toma esta facada que te trespassa o coração que assim com a certeza absoluta que me assiste morrerás!" É assim, a pessoas como o Borges, o Gaspar, etc., custa-lhes isto de ser português. A nós também, recebemos é muito menos pelo sacrifíco, cada vez menos.

A relva e o Relvas.

O meu pai não é homem de contar muitas anedotas. E as poucas que conta repete-as infinitas vezes. Conheço-as de cor. Aqui vai uma.

Ao contrário do que para aí consta nos tempos do Sr. Oliveira Salazar havia gente pobre. E desempregados também. Um deles, em desespero, foi comer a relva para o largo em frente a S.Bento. Um funcionário reparou naquilo e chamou à atenção o Presidente do Conselho. Este, apiedado com a situação, chamou o homem à sua presença. Com poucas palavras escreveu uma carta, meteu-a num envelope e despediu o homem com um aceno. A carta dizia: "Este homem pode comer a relva de qualquer largo ou praça deste país. Assinado: António de Oliveira Salazar".

Posto isto, não há ninguém que nos coma o Relvas?

Ray Bradbury (1920-2012)



“Na confusão, Montag apenas teve um segundo para ler uma linha, mas essa linha brilhou no seu espírito durante todo o minuto seguinte, como marcada a ferro em brasa: «O tempo adormeceu sob o sol da tarde».
– Montag, chega aqui.
Os dedos de Montag fecharam-se como lábios; apertou o livro com um fervor selvagem, com uma súbita demência, contra o peito. Os homens, lá em cima, lançavam braçadas de revistas no ar poeirento. Elas tombavam como aves massacradas e a mulher, em baixo, conservava-se imóvel, como uma criança, no meio de cadáveres.”
Bradbury, Ray in Fahrenheit 451, (publicado em 1953)

Deste autor, apenas li este livro. Fi-lo umas três ou quatro vezes.
Encontrei, sempre, algo de novo e de velho, de certo e de errado nessas páginas cheias de metáforas e ficções(?), desconcertantes, sobre a condição humana.

Paralelamente ao Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley - onde uma sociedade do tipo totalitário, tecnicista, mecânico e desprovida de alma se alimenta dos seus padronizados e minúsculos horizontes – em Fahrenheit 451 promove-se uma destruição opressiva e apocalíptica da cultura e da liberdade do ser humano e da sua própria história.
Estes dois livros servem-nos o medo de uma forma extraordinária e preocupante.
Os livros, todos os livros deveriam ser queimados.

“Fahrenheit 451 – a temperatura a que um livro se inflama e consome…”

Bradbury morreu. Viva Montag.