terça-feira, 27 de agosto de 2013

Duas perguntas






Quem é a pior destas gentes:



O louco que ateia o fogo

Ou o louco que solta o louco que ateia o fogo?



Por que não colocar os dois loucos

[lado a lado]

Nas primeiras filas de combate aos incêndios?




sábado, 6 de julho de 2013

remedeio








as dobradiças de portas gastaram-se 

(a fechadura nunca foi à prova
de balas… mesmo que democratas)

um portas não é de ferro e um coelho… afinal, também não.

agora, parece que o melhor a fazer é 
por trancas no vice
e, sempre que possível, trancar o primeiro.

um remedeio anibalesco... e triste.

terça-feira, 2 de julho de 2013

correntes de ar






... e a  fuga de gaspar abriu umas quantas portas

... e as correntes de ar são, agora, muitas e decisivas.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Gaspar, o fantasma futuro?

Já não pode uma pessoa chegar um pouco mais tarde a casa, retida que foi pela indecisão de onde meter gasóleo mais barato - "ali são menos dez cêntimos mas é mais cara de base, por outro lado..." - eis que se vai embora um ministro sem dizer um ai! E que ministro se foi embora! O Vítor Gaspar! E porque foi ele embora? Porque o Tribunal Constitucional não gosta dele, as previsões financeiras não gostam dele, discordando, e o país menos ainda, desempregando-se, não consumindo, etc. Como um bom CEO que se preze, Vítor Gaspar escreve tipo "I got the picture!" e demite-se. Mas Vítor Gaspar não era um CEO mas sim o Ministro de Estado e das Finanças do Governo da República Portuguesa! Pergunto eu: é isto ou era isto a mesma coisa? Revela-se agora o que queria dizer Gaspar quando referiu num comentário à meses que ele não tinha sido eleito. Enganou-se, ou melhor, entendeu mal a coisa. Eleito foi o Governo de que era a segunda figura, a partir de uma base de apoio parlamentar quase esmagadora, nascida de eleições livres em 2011. Eleito sim, e para quatro anos. A sair agora só pode ser porque afinal chegou à conclusão de que os dois primeiros anos tinham sido falhados e não sabia o que fazer nos dois restantes. Mau momento, muito mau momento para descobrir o Sr. Vítor Gaspar que não era talhado para Ministro. O seu espírito de missão, a sua cara séria até à náusea, nunca me enganaram por aí além. Não era um político? Hum.... um bom político não era e, se calhar, nem gente de Bem.
Vai ser Vítor Gaspar uma espécie de novo Ernâni Lopes, a assombrar com má cara o futuro das finanças portuguesas?  Ernâni Lopes caiu quando o Governo de que fazia parte caiu. Do qual não era a segunda figura. Era apenas o Ministro das Finanças e do Plano. Vítor Gaspar nunca teve um Plano.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

The SWAPS and the swamp (sim, o pântano, Guterres).

Muito se tem falado sobre as SWAPS - instrumentos financeiros com que gestores da coisa pública em tempos idos pretenderam precaver uma reviravolta dos mercados, coisa que efectivamente aconteceu mas claramente não como eles previram. Lembro-me de em 2010, no verão, ter ponderado seriamente converter o empréstimo do meu crédito de habitação para uma taxa fixa, não indexada à Euribor. Ponderei, ponderei, e terá sido a inexpressiva cara de quem esperava a minha resposta, uma tarde num centro comercial, terá sido a minha proverbial desconfiança da palavra "fixo", o certo é que não o fiz, contra alguns conselhos, e assim poupei algumas centenas a milhares de euros.
Sim, era o meu dinheiro, sim. Enquanto os gestores em questão jogaram com o "nosso" dinheiro. Sim, eles enganaram-se, erraram, jogaram especulativamente - todos, só alguns, os do PSD e que estão no governo actual não? - e fizeram-nos perder muito dinheiro, uma barbaridade. Vai ser e já foi, muitos já foram demitidos, há quem queira sangue, isto é, julgamentos.
O nosso dinheiro chama-se Orçamento de Estado. Como funcionário público é o meu dinheiro que me paga o salário. Eis uma razão - mais uma, não a mais importante - para eu ser exigente com o meu trabalho. O governo actual, todo, governa o nosso, o meu dinheiro. Dizem: sempre foi assim, e sempre será. Também. Na Islândia os governantes responsáveis pela bancarrota do país foram julgados. O partido deles voltou o mês passado ao poder. Isto não é fácil, pois um dia ainda prendemos o nosso Presidente da República. Onde a linha da imputabilidade judicial vs a mera responsabilidade política? A verdade é que as culpas no cartório implicam a existência de um sem fim de cartórios por este país fora, desde a mais longínqua autarquia até ao mais alto magistrado da nação. Aníbal Cavaco Silva inventou o país actual, país que inaugurou a IP4 em festa e agora nãp é capaz de acabar de furar o Marão. Com a excepção dos tempos FMI-supervised, um esboço de contenção no 1º governo Guterres e uma tentativa de moralidade pública com Manuela Ferreira Leite,  a história dos últimos trinta anos de governação é uma sucessão de erros, enganos, equívocos e incompetências, onde a porta aberta ficou sempre à espera que o último a fechasse. O último chegou agora.
Com isto não é de todo minha intenção desculpabilizar os SWAP's, mas dar-lhes um pouco de perspectiva. As PPP's foram feitas com o meu dinheiro, idem a educação, a saúde, as autoestradas... Benavente tem uma autoestrada porque eu paguei! Beja tem um aeroporto porque eu paguei! Eu paguei o Euro 2004! Quem é preso por isto? 
Por outro lado o meu dinheiro vai cada vez menos para sectores - a saúde, o apoio social, etc. - embora eu discorde desta reorientação. O meu gestor de conta, o dr. Vítor Gaspar, diz-me que isto se resume a três palavras: "não há dinheiro", e pergunta-me qual das três palavras eu não entendo. Eu respondo-lhe: "então eu morro".  Qual das três palavras eu preciso explicar? 

domingo, 19 de maio de 2013

Dizia Margaret Tatcher em 1987:

"I think we have gone through a period when too many children and people have been given to understand "I have a problem, it is the Government's job to cope with it!" or "I have a problem, I will go and get a grant to cope with it!" "I am homeless, the Government must house me!" and so they are casting their problems on society and who is society? There is no such thing! There are individual men and women and there are families and no government can do anything except through people and people look to themselves first. It is our duty to look after ourselves and then also to help look after our neighbour and life is a reciprocal business and people have got the entitlements too much in mind without the obligations."


À clássica visão maximalista de esquerda respondeu Tatcher em 1987 com esta visão maximalista de direita. Sendo que a verdade estará, como sempre, algures no meio, convém redefinir hoje o que é "a sociedade", quem verdadeiramente a compõe e o que é responsabilidade pública e o que é responsabilidade privada/pessoal, e, depois, se há dinheiro para a responsabilidade pública assumida como adequada. Mas Tatcher fez bem o seu trabalho: quantos de nós hoje nos definimos realmente como "seres sociais"?

A folga e a alternativa.

Lentamente deslizamos para o verão. E continuamos perdidos nesta crise, culpados pela Europa e pelos nossos governantes, ai Jesus (sem piada clubística). Somos um país que deve muito e caro. Somos um país que não produz assim tanto, que tem um mercado interno em implosão e que está inserido numa zona económica - a Eurozona - cuja moeda é muito cara para nós e cuja política económica é de um lento suicídio. Portugal, como o nariz de Cook a caminho do Pólo Sul, vai sucumbir primeiro, mas Cook, isto é a Eurozona, vai perecer como um todo, mais tarde ou mais cedo. Merkel o disse: produzimos 25% do PIB mundial mas damos 50% da Segurança Social mundial. Este é o modelo europeu e vai falir. Porque não há quem o pague. E, no meio disto, a Europa fecha as portas à imigração. A morrer prefere morrer sózinha e recusando a mão-de-obra barata africana (e outra), e os seus filhos, os tais que, bem integrados, podiam pagar-nos as reformas. Que não acontecerão.

Isto é assim. E há um vazio político em Portugal e na Europa, pois ninguém tem a coragem de dizer alto e bom som o que se passa. Sim, Merkel diagnostica bem. Mas a solução só pode ser outra. Os planos de reforma não foram pensados a contar com a actual crise demográfica. Mas se reformamos mais tarde não há emprego jovem, diz-se. E, porém, os nossos idosos não têm a preparação dos nossos jovens, logo não devia haver competição. O emprego indiferenciado chama por gente de fora, portanto essa gente devia ser benvinda e não irá competir com os nossos jovens. Estamos a confundir três realidades diferentes. Portugal para voltar a ter futuro tem de voltar a ser também um país de imigrantes, nunca de emigrantes! Portugal precisa de investimento. E precisa de tempo. Tempo que a Europa nos devia dar, porque também para ela ele vai ser necessário. Tempo para perceber o que quer ser quando deixar de ser o que já nem é: grande.

domingo, 12 de maio de 2013

Continuo a dizer que.

Continuo a dizer que era interessante que o Governo de Portugal gostasse do país que governa. é só isso o que eu digo...

domingo, 7 de abril de 2013

E depois de Relvas?

Para substituir Relvas fala-se de Miguel Macedo - outro Xico Esperto - ou de Luís Montenegro - que o ano passado defendeu a extinção do... Tribunal Constitucional. Nenhum deles foi o que quer que fosse fora do PSD.
 
PS.: o Orçamento não foi "chumbado" pelo Tribunal Constitucional, lembro, mas pela Constituição Portuguesa...

José Sócrates, ora adeus!

Hoje pela primeira vez Sócrates comentou. Mas com dois anos de atraso. Sócrates ainda está em 2011 e dali não sairá nunca. Ouvi-lo é uma perda de tempo. E um engano, pois ao falar mais forte e grosso que Seguro (mas, quem não?...) confunde ainda mais o PS. A tribuna e o espaço dados a Sócrates são um desperdício de horário nobre - não chega sequer a ser cómico.

O Tribunal Constitucional disse que.

Vitor Gaspar - o autor do orçamento - não serve para este país. Isto é como no futebol. Para outro país (outra equipa) ele até pode ser óptimo. Mas com estes jogadores (nós...) não vai dar. A equipa é esta! E o estádio, o campo, os balneários, os massagistas... Os portugueses somos nós e não vamos mudar. A ideia de emigrar seria uma tentativa de mudar o plantel? A questão é... temos de aguentar este treinador até ao fim da época? Não temos dinheiro para pagar outro? Ou este treinador é-nos imposto por malta de fora que subrepticiamente - ou não... - tomou conta da SAD?

Finalmente foi-se embora, foda-se!

Finalmente Miguel Relvas foi forçado a demitir-se. Teve direito a conferência de imprensa final, onde se mostrou ter mau perder e um estômago frágil. Relvas esquece que esteve dois anos a mais num Ministério onde nunca devia ter entrado, amputando desde muito cedo um dos governos mais importantes da história da 2ª República da possibilidade de uma coluna vertebral pensante. O governo como está é um conjunto de rapazes e raparigas que reune semanalmente (com a excepção de Paulo Portas, que nunca está) para receber ordens do Gaspar sob a forma de números (negativos). O episódio da nomeação de Miguel Gonçalves para o Impulso Jovem, uma espécie de Zé Cabra do YouTube mostrou que Relvas não esperava sair e que a coisa não estava nada pensada. Relvas pensou que ainda ia dar para mais uma piada malandra, como quem caga o enésimo poio sobre a relva podada do jardim da Pátria, o tal que ainda fica à beira-mar. Saiu porque Nuno Crato cumpriu com o seu dever e Pedro Passos Coelho percebeu que não dava maise aproveitou o pretexto. Ter Miguel Relvas como ministro ultrapassou em muito a pretérita anedota de Santana Lopes na Secretaria de Estado da Cultura, mas agora acabou. Falta Gaspar...

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Onde vais, Miguel?


Bem, às vezes, muda-se a "relva" e o "jogo" é outro...  às vezes.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Nem uma palavra sobre Portugal mas, está aqui tudo.

Nesta carta de George Soros o algoritmo do problema europeu está completamente enunciado. É já de Outubro do ano passado e não fala nem um bocadinho de Portugal. Mas nós estamos ali. A solução apontada? A saída da Alemanha do euro.

Sócrates voltou, para mal dos nossos pecados.

Pela primeira vez estou a usar o Google Chrome. Ao abrir o Blogger ele avisou-me que a página estava em galego e perguntou-me se eu queria traduzir - para português. Basta isto para demonstrar como este mundo está louco e perdido.

Sócrates voltou e - pasmem! - está na mesma. Gente com quem eu simpatizo como o João Galamba - nice haircut! - fogem ao comentário dizendo que é um político "preparado como poucos". Este é o drama deste país: Sócrates governou-nos aquele tempo todo porque estava "preparado como poucos". E para quê? Para enganar-nos, iludir-nos, despertar em nós o verdadeiro europeismo a saber: a cobiça, o individualismo, o egoíosmo, o "que-se-trame-ele-que-eu-cá-fico". Quando das eleições em que defrontou Manuela Ferreira Leite, uma senhora feia, mandona e depressiva com uma folha governativa discutível - a escolha popular foi óbvia - há que votar no rapaz bonito, que corre, chispa nos olhos, e que promete mundos e fundos - mundos que nós descobrimos, fundos que não acabarão nunca. O Sócrates fodeu-nos bem fodidos e em passo de corrida.

É difícil descortinar quem é o mais incompetente, se Sócrates se Passos Coelho. Sobre este vêmo-lo... "menos preparado". Calha que, infelizmente, Sócrates foi primeiro-ministro, Pedro Passos nunca o foi, nem está a ser. A governação é bicéfala - Vitor Gaspar e Miguel Relvas. Cada ministério vai em roda livre até onde a rédea curta de Gaspar o permitir. E o resto nem é conversa porque Passos nem boa companhia de mesa deve ser. Não é por ele que Massamá vai passar a estar no mapa.

Sócrates voltou e foi muito mau que voltasse. O lento reerguer de cabeça do PS terminou aqui ou pelo menos foi adiado por um semestre ou mais, consoante Sócrates volte à carga - e vai voltar. Este golpe, orquestrado nem que subconscientemente por Miguel Relvas, foi de mestre. Dentro desta moda de ter políticos a comentar a política - ou seja, de não haver comentadores políticos - o PS ofereceu agora as pratas da casa: 1º Jorge Coelho, agora Sócrates. Juntos fizeram mais mal a este país do que dez pragas de gafanhotos. A única coisa boa talvez seja um discípulo aplicado deles (Rui Pedro Soares) ir devolver Os Belenenses à 1ª Liga.

É fácil criticar a Alemanha, uma vez mais. Mas também é justo. Há cinquenta anos alguém disse "Ich bin ein berliner". Hoje era tempo de Schlaube ou Merkel deslocarem-se a Nicosia e declararem-se cipriotas.

quinta-feira, 28 de março de 2013

e por falar em audiências...




que tempos estes!...
um papa, um ex-papa, um primeiro ministro, um ex-primeiro ministro...
... bem, o ex-papa ainda não chegou a acordo com a RTP, mas...


sábado, 23 de fevereiro de 2013

O relatório do FMI e 2013 - a Saúde.

O relatório do FMI não consegue evitar elogiar o progresso dos indicadores portugueses de saúde nos últimos trinta anos. Portugal não gasta demasiado comparando com os restantes países da UE, em percentagem do PIB. E os resultados são bons.
Bom, e as críticas? Estas nascem em parte da ignorância do país, mas por outro lado também porque estamos em crise e com a corda em localização cervical: vamos gastar menos? (dizem...)

a) há comparativamente médicos a mais e enfermeiros a menos. Ok, digam-me algo que eu não saiba. Há enfermeiros a menos, o papel da enfermagem nos cuidados primários está obviamente subaproveitado por razões várias, algumas até culturais. O número de médicos deve ter em conta que neste momento está a acontecer um número elevado de reformas e de entradas de novos médicos: os números estão a mexer depressa, e variando muito de especialidade para especialidade. A carta hospitalar creio estar a acontecer, especialidade por especialidade. A carta de cuidados primários deve ser feita e englobar ambas as profissões: enfermeiros e médicos. A opção pela articulação de cuidados entre as duas profissões não deve acontecer apenas e só porque um enfermeiro custa muito menos do que um médico.

b) a mensagem dos "médicos a mais" coloca sempre em questão a real produtividade da classe médica. Esta é difícil de medir tendo em atenção a heterogeneidade de funções. Comparar a produtividade dum ortopedista com a produtividade dum internista ou a de um imunohemoterapeuta não tem qualquer lógica. Números analizados em bruto tipo "x acontecimentos/ano a dividir por y intervenientes" não abona a favor da inteligência de quem faz estas contas. Por outro lado se um hospital for universitário (você disse o quê, universitário?) isso ajuda ou atrapalha? Uma linha de montagem ensina?

c) "Médicos a mais" pode infelizmente ser uma boa notícia, ao querer dizer ordenados mais baixos induzidos "de fora para dentro". E já se nota um pouco. Curiosamente, pelo facto de terem uma capacidade negocial inferior, isto já está a acontecer, com bem maior violência, nos enfermeiros, cujos salários à partida já não eram nada elevados.

d) a questão da produtividade - e como se conseguiram tão bons indicadores de saúde com tão má produtividade? - coloca em primeira página a opção de separar as águas e não permitir que profissionais de saúde trabalhem simultaneamente no universo público e no privado. Curiosamente quando este assunto é abordado só se fala dos médicos. Uma elevada percentagem de enfermeiros acumula funções nos dois mundos e isto não parece incomodar ninguém. Então, qual é o problema com os médicos? Por outro lado a separação das águas em algumas especialidades é minimamente possível?

e) no relatório do FMI mais se refere que Portugal tem um gasto privado com a saúde superior á média europeia. Resumindo, o português gasta muito com a sua saúde, de uma forma ou de outra. O sistema privado de saúde português é relativamente caro e existem em algumas especialidades, especialmente as cirurgicas, honorários muito altos que, colocando-se a questão da exclusividade, retirariam ao serviço público os melhores profissionais em várias especialidades cruciais, cujo nome me dispenso de enunciar. Para este busilis criado pelas leis de mercado não vejo solução fácil: o objectivo de um hospital público de referência não deve ser "ter cirurgiões vasculares" mas sim "ter os melhores cirurgiões vasculares", um exemplo ao calhas. I rest my case. De qualquer forma, a produtividade exige-se e mede-se, independentemente do status do profissional em questão, médico ou enfermeiro, o estar ou não em exclusividade. Uma hora que se trabalha deve valer os seus sessenta minutos e não pela exclusividade valerá obrigatoriamente mais.

f) tempos houve que se falava muito da mobilidade dos profissionais de saúde. Hoje nem por isso: estando o país a "fechar o interior", mandar gente "para lá" não parece fazer sentido a ninguém "dos que por nós pensam".

g) e as horas extraordinárias? Talvez seja importante explicar no que consistem. Acontecem horas extraordinárias médicas porque para determinadas funções não há profissionais suficientes, nomeadamente serviço nocturno, de fim-de-semana, de serviço de urgência. A alteração referida de passar o horário-base de 35 para 40 horas em nada resolve esta questão, nos médicos mais novos já ninguém faz 35 horas e porém... A hora chama-se extraordinária porque não acontece em horário normal. Percebe isto muito bem quem vive trabalhando só de 2ª a 6ª f e de dia. Os enfermeiros, a mais incompreendida das profissões da área da saúde, trabalham já de base por turnos, e mesmo assim muitas horas adicionais são necessárias. Que os médicos passem a trabalhar por turnos é obviamente sugerido - outra ameaça à remuneração... Claro que a formação médica e a cultura de grupo e de medicina partilhada e discutida assim vai desaparecer. E na página 24 o relatório do FMI acha que a hora extraordinária (qualquer, seja uma ou dez) deve receber um honorário extra de 15% apenas e só. Extraordinário! Três da manhã de domingo vale apenas 15% mais do que três da tarde de quarta-feira?

h) o afluxo exagerado às urgências é resolvido também explorando o tecto constitucional colocado às taxas moderadoras até... ao tecto, ou seja, sugerindo a duplicação do valor de 20 euros para 40. Que se diga que metade da população é isenta de pagamento de taxas moderadoras (é mesmo verdade?) não esconde ser isto mais um caso de dupla tributação levado ao exagero mais atroz.

i) finalmente sugere-se a resolução rápida da geriatrização das enfermarias hospitalares com a expansão rápida dos cuidados continuados, o que está a acontecer, não se sabe se com poupança de custos, não se sabe se com custos na saúde dos doentes. É que idosos vamos ser todos...

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

O caso de assédio sexual no seminário do Porto que nestes dias foi notícia.

Quarta-feira foi notícia denúncia de uma situação de assédio sexual acontecida nos anos oitenta no seminário do Porto, sendo o protagonista o bispo Carlos Azevedo, ex-auxiliar de Lisboa e ultimamente colocado em Roma, e o denunciante o padre José Nuno, capelão do Hospital de S.João.
Hoje falei sobre esta história com três pessoas que muito prezo. Foram sempre diferentes as considerações e as conclusões. Vamos conversar um pouco...
 
O bispo Carlos Azevedo está eclesiasticamente morto, hoje por hoje. Um "caso" destes, acontecido há trinta anos, não se confirma nem se desmente. A definição de assédio sexual era outra nos tempos de Reagan e de Gorbachev. É estranho dizer isto, mas é verdade. Porém, esta caixa de Pandora ninguém a vai conseguir fechar, sendo uma palavra contra outra, ou pouco mais.
 
Apareceu nas televisões o bispo "incriminado" a declarar-se contra a pedofilia. O  veneno é óbvio e muito baixo, muito sujo. O que pode estar em causa é assédio homosexual entre adultos. O bispo Carlos Azevedo seria mais velho do que os seminaristas o mesmo número de anos que o meu pai é mais velho do que a minha mãe... A pedofilia não tem nada a ver com esta história, a questão do celibato dos padres sim, possivelmente, provavelmente, ou mesmo, até. Portugal é um país que hoje aceita o casamento homossexual, certo? Os homossexuais casam entre outras razões porque têm relações sexuais. Portanto, o celibato não é notícia...
 
O padre José Nuno é o capelão do meu Hospital. Fez uma denúncia, pelo que li, com vinte, trinta anos de atraso. Existe meia dúzia de coisas, de pessoas, que são realmente excepcionais no meu Hospital. O padre José Nuno é uma delas. O ser excepcional não é ser perfeito. É ser muitas coisas, com algumas destas coisas sendo muito boas. É ser fantasticamente humano. Temo muito pelo padre José Nuno. E não consigo explicar bem porquê.
 
Como em trinta anos não se consegue perdoar? Eu gosto muito do padre José Nuno. Portanto acredito nele. Portanto acredito, e com ele sofro, o facto triste sobre todos os factos tristes desta história, de o perdão não ter sido possível. É terrível a solidão dos justos. Temo pelo padre José Nuno porque, entre outras razões, ele está/é muito mais sózinho do que eu, já antes assim eu o via, agora ainda mais.
 
O meu padre José Nuno, eu sei que ele permitirá que eu assim o chame, publicou recentemente um livro sobre a morte nos hospitais, brilhante extensão da sua tese de doutoramento. Não comprei com medo do que podia encontrar no livro, perdoe-me, meu amigo.
 
Estou muito triste com tudo isto. Quem acredite em Deus precisará de ajuda agora como nunca antes precisou. Use-a, meu amigo, e em abundância.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

O relatório do FMI e 2013 - a Educação.

O relatório do FMI (RDF) afirma taxativamente que o Estado português tem funcionários a mais em duas áreas - educação e segurança. Vamos falar da educação.
Os dados são os seguintes: Portugal gasta em percentagem do PIB o mesmo que, por ex.,  a Finlândia e tem dos menores ratios de alunos por professor da Europa, sendo que o grosso do ensino é público. E no entanto as escolas com melhor avaliação são privadas e a performance portuguesa no PISA - programa da OCDE de avaliação da performance escolar - é modesta. Os ordenados dos professores estão na média europeia ( com melhores salários na escola pública do que na privada) e a progressão salarial é por antiguidade e não por mérito. As colocações são centralizadas e rigidas e, uma vez mais, o mérito não é tido em conta. A carga horária é considerada curta. Dado o precipicio demográfico em que nos encontramos a necessidade de despedir professores parece óbvia, e os números no global não parecem mais assustadores porque o número de alunos nos extremos - pre-primário e universitário - continua a subir.
Desenhado este quadro, as sugestões são óbvias: despedir, mobilizar, aumentar a carga horária, premiar o mérito e não a antiguidade, passar funções para o ensino convencionado onde os ordenados são mais baratos, aumentar as propinas no ensino superior, etc., etc.
O RDF esquece a história educativa portuguesa. O nível português de alfabetização leva quase um século de atraso em relação à Finlândia, cujo PIB per capita de base é várias vezes superior ao nosso. A escola portuguesa tem mais trabalho pela frente ao educar um aluno do que a escola finlandesa. Sim, é preciso avaliar, sim é preciso mobilidade dos professores mais antigos - os mais novos já a têm, completamente aleatória. Sobre a carga horária não me pertence a mim pronunciar. Um professor trabalha mais em casa do que outros profissionais, não esqueçamos. A progressão salarial por antiguidade não me parece um erro em si. O erro está em não existir progressão por mérito. Lembremos que em Portugal nunca ouve uma meritocracia. Os portugueses não sabem como se faz e desconfiam que "meritocracia" seja um sinónimo encoberto para compadrio e escolha a dedo. E têm razões antigas e novas para isso. A profissão de professor não é uma profissão qualquer. O número excessivo de profissionais nasceu de um apelo subterrâneo (ou não) para que a educação finalmente fosse universal em Portugal. Quando houve na Finlândia militares a alfabetizar os camponeses? A curva demográfica portuguesa foi das mais abruptas da Europa, com uma queda abissal após um boom demográfico pós-74 que foi amenizado pela imigração dos anos  oitenta e noventa, africanos primeiro, europeus de leste depois.
O sofisma de que a escola pública prolonga e promove a desigualdade em vez de a desfazer nasce do facto dos alunos já partirem para a escola com uma desigualdade escolar "endógena", familiar,  de base dificilmente recuperável. O olhar está portanto enviezado. Pode dizer-se que a escola pública é rígida, é formatada de cima para baixo, e é verdade. Mas as crianças "melhores" vão para as escolas privadas e assim se explica em grande parte os tais bons resultados. E quando se diz que a universidade pública também promove a desigualdade não se quer ler que as melhores notas de entrada para as universidades públicas - estas sim tidas como as melhores - são obtidas no ensino secundário privado pelos alunos endinheirados, deixando de fora os outros. As universidades privadas vivem então dos alunos da classe média e média-baixa cujos pais passam fome ou quase para pagar as propinas, e dos alunos ricos e estúpidos mas a quem o ensino superior nunca será negado pelos pais. Grosso modo é assim, a excepção sendo isso mesmo: excepção. Subir propinas e manter igualdade ou não agravar o actual nível de desigualdade de acesso à universidade pública pede obrigatoriamente aumento do apoio social aos alunos. Podemos fazê-lo?

Sim, os sindicatos dos professores são uma corporação agressiva e "reaccionária". Mas o professor não pode ser visto como um inimigo. A escola pública é também onde o aluno aprende a ser social, aprende a conviver em democracia. Ou não. Possivelmente consegue-se fazer melhor escola pública com menos dinheiro. E vai ser necessário, infelizmente, avaliar os professores, mobilizar professores, despedir professores. Talvez seja preciso descentralizar mais, e competir, e premiar. E castigar. Mas uma escola pública excelente deve ser a meta a atingir. E nisto, firmemente, creio. Enquanto escrevo  a minha filha frequenta uma escola privada. Mas eu não disse que a escola pública hoje está bem. Ninguém pode dizer isso. Mas tenho eu menos direito a pronunciar-me sobre ela do que o FMI?

domingo, 13 de janeiro de 2013

E uma salvaguarda.

E, antes de arrancarmos para uma melhor análise do relatório do FMI e do momento que vivemos, porque tem este blogue - no que a mim diz respeito - estado tão calado? A resposta é simples: porque Miguel Relvas ainda é ministro. É que não há palavras.

O relatório do FMI e o ano de 2013 - take one.

Um país não é só números. Os números que medem um país nascem duma história. E os números nascem de um país em movimento. Números são um reflexo e não a essência. Números incontornáveis mas menos do que as pessoas que assim aparecem medidas. Espremidas?

Este relatório do FMI - cuja divulgação terá surpreendido o próprio e interessará aos do costume - é uma avaliação que só pode ser rejeitada - e a ideia é que o deve ser - após análise profunda e resposta adequada, isto é, com números melhores e falando das pessoas que nós somos metidos neste embrulho. Se considerarmos o relatório superficial, e ele nem sempre o é, a sua refutação não pode ser superficial. Mas a razão mais simples para recusar este relatório como a receita certa é que não somos nós a fazê-lo. E, para mim, esta razão chega. Basta de política e de políticos cobardes que pedem a outros - estrangeiros, ie., estranhos a nós - para ditar ao pobre nós-público o que verdadeiramente negro  sobre nós lhes vai na alma! Eu disse alma?

Agora é preciso responder e muito e circunstanciadamente.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Sobre (outra vez) o medo.

Na sequência de declarações recentes que passam por originais, seja na televisão seja nos jornais, aqui vai do O'Neill, tão a propósito...




O Poema Pouco Original do Medo




O medo vai ter tudo

pernas

ambulâncias

e o luxo blindado

de alguns automóveis



Vai ter olhos onde ninguém os veja

mãozinhas cautelosas

enredos quase inocentes

ouvidos não só nas paredes

mas também no chão

no tecto

no murmúrio dos esgotos

e talvez até (cautela!)

ouvidos nos teus ouvidos



O medo vai ter tudo

fantasmas na ópera

sessões contínuas de espiritismo

milagres

cortejos

frases corajosas

meninas exemplares

seguras casas de penhor

maliciosas casas de passe

conferências várias

congressos muitos

óptimos empregos

poemas originais

e poemas como este

projectos altamente porcos

heróis

(o medo vai ter heróis!)

costureiras reais e irreais

operários

(assim assim)

escriturários

(muitos)

intelectuais

(o que se sabe)

a tua voz talvez

talvez a minha

com certeza a deles



Vai ter capitais

países

suspeitas como toda a gente

muitíssimos amigos

beijos

namorados esverdeados

amantes silenciosos

ardentes

e angustiados



Ah o medo vai ter tudo

tudo



(Penso no que o medo vai ter

e tenho medo

que é justamente

o que o medo quer)



*

O medo vai ter tudo

quase tudo

e cada um por seu caminho

havemos todos de chegar

quase todos

a ratos



Sim

a ratos