sábado, 28 de julho de 2012

Notícias das 20




Nunca a informação televisiva conseguiu ser tão eficazmente malévola como agora, nestes tempos de valores indefinidos e limitados pela ignorância institucional daqueles que nos vão, sucessivamente, desgovernando.
Hoje, as notícias que nos chegam, são as notícias do desespero galopante, tido como  inevitável e confuso e que, aos olhos e às bocas de quem o transmite, tem uma permanência de fado e uma imutabilidade quase religiosa que lhe conferem a beleza imprópria da manchete formatada.
E é esse desespero triste que, todos os dias, nos é dito pelos ares empolgados dos senhores e senhoras dos noticiários, como se as coisas só fossem isso, só girassem à volta disso e não existissem mais mundos para lá disso.

Às vinte, os canais vomitam amarguras consideradas invencíveis pelas vozes dramáticas de uns, as montras dentárias de outros e os tiques emotivos de outros mais.
Cada um por si, os locutores limitam-se, apenas, a servir os propósitos mais negativos de uma televisão trágica, ao serviço de sensacionalismos baratos, sem qualidade e sem remédio à vista.
Todas estas más novas parecem as coisas mais importantes da vida e, vai daí, três quartas partes dos telejornais estão sempre garantidamente preenchidas com as misérias quotidianas repetidas até à exaustão, vistas com zoom gigantesco e que são apresentadas como uma espécie de filosofia da desordem, banalizando o caos emotivo a que fica exposto o cidadão comum.

Mas o que é estranho (será?) é que quando acontece algum triunfo desportivo ou algum falecimento de uma figura pública, as três quartas partes dos mesmos telejornais passem a ter estes assuntos como tema principal, reservando um quarto das quatro partes, para todas as colecções de desgraças e tristezas que, vai-se a ver, talvez não mereçam mais do que isso.



in “Maia Hoje”, 27.07.2012

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