Nunca a informação televisiva
conseguiu ser tão eficazmente malévola como agora, nestes tempos de valores
indefinidos e limitados pela ignorância institucional daqueles que nos vão,
sucessivamente, desgovernando.
Hoje, as notícias que nos
chegam, são as notícias do desespero galopante, tido como inevitável e confuso e que, aos olhos e às
bocas de quem o transmite, tem uma permanência de fado e uma imutabilidade
quase religiosa que lhe conferem a beleza imprópria da manchete formatada.
E é esse desespero triste que,
todos os dias, nos é dito pelos ares empolgados dos senhores e senhoras dos
noticiários, como se as coisas só fossem isso, só girassem à volta disso e não
existissem mais mundos para lá disso.
Às vinte, os canais vomitam
amarguras consideradas invencíveis pelas vozes dramáticas de uns, as montras
dentárias de outros e os tiques emotivos de outros mais.
Cada um por si, os locutores
limitam-se, apenas, a servir os propósitos mais negativos de uma televisão
trágica, ao serviço de sensacionalismos baratos, sem qualidade e sem remédio à
vista.
Todas estas más novas parecem
as coisas mais importantes da vida e, vai daí, três quartas partes dos
telejornais estão sempre garantidamente preenchidas com as misérias quotidianas
repetidas até à exaustão, vistas com zoom gigantesco e que são apresentadas
como uma espécie de filosofia da desordem, banalizando o caos emotivo a que
fica exposto o cidadão comum.
Mas o que é estranho (será?) é
que quando acontece algum triunfo desportivo ou algum falecimento de uma figura
pública, as três quartas partes dos mesmos telejornais passem a ter estes
assuntos como tema principal, reservando um quarto das quatro partes, para
todas as colecções de desgraças e tristezas que, vai-se a ver, talvez não mereçam
mais do que isso.
in “Maia Hoje”, 27.07.2012
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