sábado, 4 de dezembro de 2010

Não ter medo das consequências.

Assim se intitula a 1ª página do Público de hoje referindo-se a Sá Carneiro, falecido tragicamente há 30 anos: "O político que não tinha medo das consequências".
Pode não parecer um elogio mas é. Passo a explicar. As consequências existem. São para ser pensadas, pesadas. Se o passo é o certo, assumidas. E só. Assim foi Sá Carneiro, sempre.
A vida política deste homem teve quatro fases-chave: a 1ª quando 2º e depois 1º líder da chamada Ala Liberal da Assembleia Nacional. Começando ainda antes na sua carta a Marcello Caetano a pedir a volta a Portugal do Bispo do Porto e (não) terminando na sua declaração de renúncia ao mandato de deputado. Manteve a sua coluna no Expresso - "Visto". Logo após o 25 de Abril funda o PPD - pelos vistos nome inventado por Ruben A... - e consegue, contra ventos e marés e praticamente do nada, 25% de votos nas Constituintes de 75. É, julgo, em 78 que resolve romper com o status quo, "realinhar" o partido - reduzindo à quase nulidade pelo caminho muitos pseudo-notáveis, et pour cause... Finalmente cria a AD, vence duas eleições e avança para o 1º governo de direita com maioria absoluta pós-25 de Abril e assim equilibra o espectro político português, até então sempre descaído para o lado contrário.
De expressão não fácil, orador não brilhante, compensava esta limitação com um excesso de carisma que ofuscava o seu entorno - ele era uma espécie de princeps, de primum inter pares - os governos foram de Sá Carneiro como já antes o partido era seu, as moções, as reuniões, os plenários, etc. Onde estivesse era o centro, fosse duma festa ou dum furacão.
E era evidente a sua extrema inteligência e agudeza de espírito bem como uma certa conjugação de desprendimento com um sentido do dever muito marcado. Sá Carneiro, advogado com fama na praça portuense desde novo, não precisava da política para comer, precisava dela para respirar - e não pelo jogo, sim porque era um Homem com um Projecto para o seu País.
O seu viver rápido atrapalha-nos porque habitualmente nós os simples de Portugal somos peritos em adiar. Sá Carneiro nunca adiou. Nunca deixou para amanhã o que tinha de ser abraçado hoje.
Por isso, quando morreu, de alguma forma, não deixou nada por fazer.
Levando ou não o Mito em conta, foi para mim o Político português do século XX.
Morreu apaixonado. My kind of guy...

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