sexta-feira, 28 de maio de 2010

página três



acabaram as primeiras páginas de jornal. hoje.
um telefonema resolveu a questão. disseram: não há razão para gastos inúteis.
assim, a partir de amanhã, todos os jornais começarão na página três.

acabaram as sensacionais notícias da Lusitânia. hoje.
não há mais nada para dizer a quem já não quer ler. disseram: não há casos por aí.
assim, a partir de amanhã, as letras serão exclusivamente pretas e terão tamanho reduzido.

acabaram as previsões, as certezas, as presunções. hoje.
foram proibidas as últimas tendências de boato. disseram: é tudo verdade.
assim, a partir de amanhã, os editoriais serão minúsculos e não terão qualquer piada.

acabaram as entrevistas, as opiniões e as matérias internacionais. hoje.
não há palha que cultive as pessoas. disseram: não existe nada digno de menção.
assim, a partir de amanhã, todos os acessos às redacções serão polvilhados de cartazes, onde, em letras “arial terminal”, tamanho setenta e dois, estará escrito:
“para qualquer assunto toque a vuvuzela”.

acabaram as primeiras páginas do jornal. hoje.
um telefonema resolveu a questão. disseram: não há razão para gastos inúteis.
assim, a partir de amanhã, todos os jornais começarão na página três.

amanhã, na página três de todos os jornais, estará escrito: “o governo vai propor que, logo que a situação financeira do país o permita, todos os jornais passem a começar na página dois”.



Nelson Ferraz, in “Maia Hoje”, 28.05.2010

quinta-feira, 27 de maio de 2010

As mão sujas de Mr. Nobody



Uma enorme mancha de óleo continua a emporcalhar o Golfo do México e todos os Golfos do Mundo e nela são visíveis cinco biliões de motivos para nos perguntarmos: quanto mais tempo para aprenderemos que há problemas incomparavelmente maiores que as minúsculas soluções disponíveis?

Às centenas de espécies animais ameaçadas por esta porcaria, bastaria um pequeníssimo instante com cérebro para que não morressem sem conhecerem o focinho endinheirado dos costumeiros assassinos.

Aos inúmeros humanos, que irão pagar mais este extraordinário e hediondo crime, seria necessário uma dúzia de vidas para perceberem(?) como são possíveis tamanhas atrocidades.
O mal está feito e assina de cruz.

E agora, Mr. USA? E agora, BP? E agora, seus FP?

terça-feira, 25 de maio de 2010

The corporations and Obama

Though times for Obama: ora leiam...

segunda-feira, 24 de maio de 2010

1,5%

Claro que a ideia é comprar as forças de segurança para o "Verão Quente" que se aproxima... as associações sindicais pedem mais uma redefinição de carreiras, eu peço que a polícia deixe de ganhar sobretudo "à peça"...

sexta-feira, 21 de maio de 2010

A paixão espanhola pelo TGV explicada às crianças...

...neste artigo. Afinal também em Espanha pasa algo raro...

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Valha-nos Nossa Senhora...

Eu por mim, ainda não saí do meu assombro!

José Sócrates julga-se o "Infante Santo"! Sacrificado pela Pátria, imolado numa masmorra de Fez, um herói para a posteridade, uma referência de altruísmo.
Ó pá... é que não há pachorra!

A outra hipótese é que tenha mudado de morada e agora more ali na Infante Santo com vista para o Tejo e, por associação de ideias...

terça-feira, 18 de maio de 2010

Avisem a GALP

"Petróleo baixou 9% em três dias

O preço do barril de petróleo de referência na Europa, a variedade "Brent", já desceu 8,6% desde 6ª feira. A quebra desde final de Abril já é de 15%."...

Jorge Nascimento Rodrigues (www.expresso.pt)
22:19 Terça-feira, 18 de Maio de 2010

"Cheio de Deus..."

"SEGUNDA QUINA / D. FERNANDO, INFANTE DE PORTUGAL



Deu-me Deus o seu gládio, porque eu faça
A sua santa guerra.
Sagrou-me seu em honra e em desgraça,
As horas em que um frio vento passa


Por sobre a fria terra.
Pôs-me as mãos sobre os ombros e doirou-me
A fronte com o olhar;
E esta febre de Além, que me consome,


E este querer grandeza são seu nome
Dentro em mim a vibrar.
E eu vou, e a luz do gládio erguido dá
Em minha face calma.

Cheio de Deus, não temo o que virá,
Pois venha o que vier, nunca será
Maior do que a minha alma."

A última estrofe deste poema da "Mensagem" de Fernando Pessoa terminou a entrevista de José Sócrates na RTP1. O primeiro-ministro citou-a. O Poeta escreveu este poema preso do maior fervor patriótico, e não. Era um poeta, era um fingidor. O Poema é Maior.

É o retrato de um fanático.

Le Monde et L'Europe

No Le Monde, esta opinião deprime qualquer um...

Sarkozy

Sarkozy zangou-se connosco. E se nós nos zangássemos com ele? Por isto e por isto...
Angela Merkel ou anda esquecida ou tem um caso com este homem...
Carla, filha, deixa lá, sempre estou cá eu...

segunda-feira, 17 de maio de 2010

transição

se as memórias de um tinteiro mercenário
pintarem de giz as melancolias de um viarco número dois
talvez então faças um pequeno esforço
para compreenderes
o porquê das andorinhas quase brancas agora

um coração tem sempre um nome inexacto
nos alforges das letras que os pequenos pacotes de açúcar
escondem nas margens das chávenas fumegantes

amanhã será um novo dia
e eu creio num sol novo entre os canaviais
dos silêncios incorrectos

espera-me mesmo que eu não saiba
o resultado das cópias contrafeitas
desta tranquila tristeza misturada
com a inquietude do vento incolorido

e sobre os rascunhos das definições
vais ver-me desenhar
a inexistência dos prodígios prematuros

domingo, 16 de maio de 2010

Remunerações milionárias ibéricas.

O problema com a remuneração dos altos executivos é universal... ou pelo menos ibérico...

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Willst du mitt mir schlafen?

Lembro-me do tempo em que a única frase que eu conhecia de alemão era esta, para além dos clássicos AEG Telefunken e isso...
Agora parece que é preciso conhecer mais um pouco da língua de Goethe e Merkel...

terça-feira, 11 de maio de 2010

naquele tempo

naquele tempo abril era de noite
e a noite encadernava-me o corpo a alma e os dias
numa escuridão armada de silêncios desconhecidos e longínquos

e enquanto os pirilampos afogueados por notícias aos relâmpagos
e por boatos tracejados na bruma
escreviam cartas aos meus medos espantados
a noite teimava em ser ainda noite

naquele abril eu tinha áfrica nos meus olhos que eram noite
tinha rios espessos e castanhos nas minhas mãos que eram noite
e tinha tinta cor de telha
nas letras esguias dos meus poemas que eram noite

mas algo se passava dentro da terra toda
algo esvoaçava no sussurro brusco da folhagem da carne

então? perguntavam-me
não sei não sei
é de noite e não sei

e não sabia

naquele tempo abril era de noite
e na floresta havia luzes negras e línguas de relento
entre as fardas moribundas do luar e do vento
e havia noite muita noite sempre houve noite
aquela noite

até que uma vez a manhã nasceu belíssima
mas longe tão longe e tão morta de cansaço
que a noite ficou confusa

desde então que é tão inútil e breve essa manhã
tão desacreditada e distante

desde então que essa manhã forra de indiferença
as magras vontades desvanecidas
de quem esteve naquele tempo

e hoje mesmo em abril
parece de noite outra vez

in “Gondomar Económico”, Maio de 2010

segunda-feira, 10 de maio de 2010

os impostos também pagam imposto

e eis que Sócrates, com passos de coelho, nem as cenouras poupa.

sábado, 8 de maio de 2010

He's got to go!

Não vou pôr no blog o vídeo da roubalheira dos gravadores pelo sôr Ricardo Rodrigues porque já toda a gente viu! Mas...

a) obviamente este deputado tem que sair. Não é digno de ser deputado da Nação.

b) o meu amigo Francisco Assis está a meio passo em falso de seguir o mesmo caminho no que à liderança de bancada diz respeito, embora me pareça que, coitado, ele não tenha culpa do plantel que lhe calhou em liça...

c) de uma vez por todas, círculos uninominais, e em força! Já! Ricardo Rodrigues jamais seria eleito em nenhum sítio do país e muito menos nos Açores donde é proveniente...

d) finalmente, eis um post de um homem que nas letras muito estimo, mas que é um vendido político. Ele haverá fixações...

Se calhar...

ainda conseguimos safar o 14º mês...

quinta-feira, 6 de maio de 2010

um dia...

uma agência de rating
desatou a contar histórias que não devia
sobre as histórias de quem deve

as histórias tinham sotaque americano
as histórias tinham contas mal contadas

uma agência de rating
foi inesperadamente convidada para um copo

antes do último gole
alguém roubou a máquina de avaliar países

Que rápido...

Um blog do Guardian sobre a crise financeira, escrito ao minuto...

quarta-feira, 5 de maio de 2010

O próximo episódio. O fim?

Visto pelo Le Monde.

Entrevista a Vitor Bento: nós e a República Dominicana.

Podia escolher várias frases fortes desta entrevista. Melhor não: eis o link.

E agora, para onde vamos?

Passei de tarde por um grupo de pessoas de negro vestidas que, à porta de um gabinete, esperavam. Esperavam que alguém lhes permitisse entrar. As pastas alinhadas e pousadas no chão, também três, o conteúdo aprumando-as, impedindo-lhes o tombo. Queriam vender. E ao vender vendiam-se também um pouco estes senhores, adoptando aquele aspecto neutro versus viúvo, circunspecto versus triste, abúlico versus humilhado.
Hoje todos vendemos alguma coisa. Daí não virá mal ao mundo. A economia da troca que se sofisticou na economia da venda é um passo major no progresso da humanidade, dizem. Não, a minha questão não é essa. Interrogo-me porém sobre estes métodos e procedimentos de venda, que obrigam quase sempre a gestos de matilha, dar o pescoço a morder, cheirar a urina uns dos outros, baixar e recolher a cauda, apagar o olhar e submeter-se...
Chegámos aqui. Chegámos a este tanto. E agora, para onde vamos? Que civilização é esta que construimos? A palavra "selva" diz-vos alguma coisa? Ou até precisamos de outra palavra nova para definir isto? Qual?

PS.: estes considerandos não têm nada a ver com a pastilha elástica que Mário Lino colou debaixo da mesa da Comissão de Inquérito Parlamentar. Eu se estivesse no lugar dele tinha-me vendido exactamente da mesma forma...