acabaram as primeiras páginas de jornal. hoje.
um telefonema resolveu a questão. disseram: não há razão para gastos inúteis.
assim, a partir de amanhã, todos os jornais começarão na página três.
acabaram as sensacionais notícias da Lusitânia. hoje.
não há mais nada para dizer a quem já não quer ler. disseram: não há casos por aí.
assim, a partir de amanhã, as letras serão exclusivamente pretas e terão tamanho reduzido.
acabaram as previsões, as certezas, as presunções. hoje.
foram proibidas as últimas tendências de boato. disseram: é tudo verdade.
assim, a partir de amanhã, os editoriais serão minúsculos e não terão qualquer piada.
acabaram as entrevistas, as opiniões e as matérias internacionais. hoje.
não há palha que cultive as pessoas. disseram: não existe nada digno de menção.
assim, a partir de amanhã, todos os acessos às redacções serão polvilhados de cartazes, onde, em letras “arial terminal”, tamanho setenta e dois, estará escrito:
“para qualquer assunto toque a vuvuzela”.
acabaram as primeiras páginas do jornal. hoje.
um telefonema resolveu a questão. disseram: não há razão para gastos inúteis.
assim, a partir de amanhã, todos os jornais começarão na página três.
amanhã, na página três de todos os jornais, estará escrito: “o governo vai propor que, logo que a situação financeira do país o permita, todos os jornais passem a começar na página dois”.
Nelson Ferraz, in “Maia Hoje”, 28.05.2010
Assim cortavas a entrevista do CR9 ao Público a meio...
ResponderEliminarA sério, excelente texto!