quarta-feira, 5 de maio de 2010

E agora, para onde vamos?

Passei de tarde por um grupo de pessoas de negro vestidas que, à porta de um gabinete, esperavam. Esperavam que alguém lhes permitisse entrar. As pastas alinhadas e pousadas no chão, também três, o conteúdo aprumando-as, impedindo-lhes o tombo. Queriam vender. E ao vender vendiam-se também um pouco estes senhores, adoptando aquele aspecto neutro versus viúvo, circunspecto versus triste, abúlico versus humilhado.
Hoje todos vendemos alguma coisa. Daí não virá mal ao mundo. A economia da troca que se sofisticou na economia da venda é um passo major no progresso da humanidade, dizem. Não, a minha questão não é essa. Interrogo-me porém sobre estes métodos e procedimentos de venda, que obrigam quase sempre a gestos de matilha, dar o pescoço a morder, cheirar a urina uns dos outros, baixar e recolher a cauda, apagar o olhar e submeter-se...
Chegámos aqui. Chegámos a este tanto. E agora, para onde vamos? Que civilização é esta que construimos? A palavra "selva" diz-vos alguma coisa? Ou até precisamos de outra palavra nova para definir isto? Qual?

PS.: estes considerandos não têm nada a ver com a pastilha elástica que Mário Lino colou debaixo da mesa da Comissão de Inquérito Parlamentar. Eu se estivesse no lugar dele tinha-me vendido exactamente da mesma forma...

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