Fulano é um homem
de esquerda. Por isso, naquela reunião importante, quando viu o sujeito, à sua
direita, tomar aquela atitude de esquerda, não se conteve e disse:
“- Então o senhor, um homem de direita, sentado à minha
direita, toma uma atitude de esquerda?
Que há-de dizer este tipo, sentado à minha esquerda, que
tem atitudes de esquerda, ainda mais à esquerda do que as minhas?
Se calhar, ele ainda se vai lembrar de dizer que quem é
de direita sou eu. Que as suas ideias são mais esquerdas do que as minhas,
etc., etc..
Com franqueza! Acho melhor que reconsidere a sua posição,
homem!
Ou revê a sua atitude, e, consequentemente, altera a sua
opinião ou teremos aqui um problema, pontual é certo, mas significativamente
elucidativo para quem, ávido de fofocas, não perderá, de modo algum, esta
oportunidade de questionar peripécias como esta, muito pouco dignas de quem,
como o senhor, prometeu defender interesses de um determinado quadrante.
Ao falar de fofocas, refiro-me aos jornalistas. Esses
desiluminados fazedores de não-notícias.
Aos jornais e aos directores de jornais que se aguentam à
esquerda quando o poder é de esquerda, mas que se cimentam à direita quando o
poder é de direita.
E olhe que eu tenho um cagaço, exacerbado, de tudo o que
mexe com opiniões escritas, feitas sabe-se lá por quem e que, quer seja à
direita de mim ou à esquerda de si, atinge as pessoas bem no centro das suas
posições.
Além disso, o respeitado colega já reparou que, pondo de
parte tudo e todo o resto e estando eu obrigado, também, a tomar uma atitude,
me vejo agora circunscrito ao tremendo problema de não ter espaço político,
partidário e de coerência individual para me manifestar de acordo com a minha
posição?
Não viu, não! Eu sei que não reparou nisso, mas o meu
dever passa por colocar-lhe esta minha preocupação. Espero que não leve a mal.
Mais a mais, não será por isto que, numa próxima
oportunidade, lhe ocorrerá tomar atitude semelhante. Pois não?"
“- Certamente que não. Não será por causa disso. São
outros, os motivos.” – disse o sujeito à
direita. E continuou:
“- O facto de estar à sua direita confere-me o direito de
o ver, a si, como uma referência fundamental. Oriento-me, por si, por exemplo,
quando quero saber, rapidamente, onde é o meu lugar.
E, quer o senhor queira, quer não queira, já não podemos
passar um sem o outro. De tal modo que, por vezes, sinto-me tentado a comungar
do seu discurso.
Quanto mais não seja, para que, à minha direita, não
coloquem nunca, outras cadeiras.”
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