segunda-feira, 27 de junho de 2011

uma luz

A percentagem de pessoas que costuma tirar partido das janelas e varandas de suas casas é uma coisa tão minúscula, que chega a parecer perfeitamente escusada, essa tradição humanóide de fazer aberturas envidraçadas nas paredes dos edifícios.

Algumas dessas peças das casas irão desaparecer, sem nunca terem tido um hóspede ou um abano de cortina.


… o segmento de rua onde resido, deve ter, pelo menos, umas cinquenta coisas dessas (entre varandas, janelas e janelinhas do tipo respirador).

São 22,45h, reina a noite e o silêncio das persianas.

Apenas uma janelinha estreitinha, com luz. (???)


É evidente que, lá ao fundo, no outro lado da rua, alguém se recusa

a cagar às escuras.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

hábitos

a dignidade é um círculo um circo uma esfera um esquadro
plastificado de vespas esverdeadas nomeadas por decreto zincado
como as escalfetas improváveis e invisíveis de kafka.

o vento assobia por entre os dentes de cartolina que os cactos de aljubarrota
agrafaram a todas as páginas destes imensos catecismos de volúpia irresponsável e mecânica.

é urgente que se abram todas as portas destas ruas sem números
sem gente e sem cães
e permitir que todas as colchas exibam os seus corpos adamascados
frente a esta solidão multiforme de humanos automáticos
cheios de marcas electrónicas
na cabeça esburacada pelos medos anónimos.

talvez os grilos talvez
venham a ditar a duração exacta
desta melancolia sem significado
talvez

mas pessoalmente
acho que serão incapazes
de reconquistar para nós
aquela tranquilidade sossegada
de folhear o café chávena a chávena
como estávamos habituados.

sendo assim
tudo fica adiado.

"Gondomar Económico", Junho de 2011

quarta-feira, 22 de junho de 2011

os primeiros gomos

eu só quero dizer três coisas

e a primeira coisa é que…

- achei muito nobre a atitude do candidato laranja à assembleia da república, ao desistir de novas votações, depois de ter sido chumbado duas vezes.
cheguei a temer que ele acabasse eleito à 387ª. volta, perante o cansaço de simpatizantes e antagonistas.
desta vez, ele não falou em tiros, mas alguém o atingiu em cheio, acabando, a meu ver, com a sua imaculada postura de independente ingénuo.
depois deste episódio, o senhor fernando sentou-se num outro lugar mais ao jeito da plebe, deixando atrás de si a sombra, omnipresente, da imprescindibilidade de portas.
mesmo para estas coisas.

a segunda coisa tem a ver com…

- o facto de não existir um ministério da cultura que talvez até nem faça falta, mas…
se julgarmos a “utilidade” pela competência e pela obra feita, então acabaríamos sim com ministérios, mas com o das finanças e o da economia uma vez que há longos anos que têm dado provas irrefutáveis da sua inutilidade.

a terceira coisa são duas…

- a certeza das dúvidas e receios que paulo macedo semeia, em todos os que se interessam pela saúde
e
- a dúvida se ele terá a certeza de que o ministério dele não faz aplicações de fundos, nem poderá nunca ser uma cobaia de jogos financeiros com vista à projecção individual e ao endeusamento de gestões políticas.



(que este governo não seja mais um trem de cozinha igual aos anteriores:
cheio de tachos, panelinhas e sem um verdadeiro esfregão de palha-d’aço.)

in "Maia Hoje", 24.06.2011

As preocupações ambientais de "CR superstar"

... na reserva natural da barragem da Caniçada no Gerês..... Cristiano Ronaldo está a construir... uma casa.

Isto parece uma estupidez, mas não é. É uma merda.


domingo, 19 de junho de 2011

O novo governo e Paulo Macedo.

Temos novo governo. E que governo este! Com o atraso devido a que também vivo, trabalho, etc., tudo o que aqui apareça já foi escrito e reescrito algures. E porém... claro que como qualquer português acho que sei como ninguém o que se passa e lá vou mandar para o éter a minha opinião.
Um governo só com quatro PSD's é uma óptima mensagem para os boys da área. Dos quatro uma merece as minhas melhores expectativas num cargo - a Justiça - que pede actuações várias e urgentes: Paula Teixeira da Cruz. Sempre gostei do seu discurso. Agora pode mostrar que é mais do que isso.
Os Migueis - Relvas e Macedo - são os boys do PPC. Não acredito que provoquem danos major. Aguiar Branco é o ministro "do norte" e ficou alocado à Defesa. A ver vamos. Desconheço as suas qualificações para o cargo.
Dos independentes dois vão para o tandém Economia e Finanças. Qualquer consideração esbarra com o facto que nesta área "isto", ou seja, a crise que vivemos, pede soluções novas. Saberão eles inventar?
Sobre Nuno Crato sei pouco também. Fazer melhor que os anteriores não será difícil.
Sobre Paulo Macedo já vou falar.
A lógica do CDS tinha que ser outra: o CDS ocupa os três lugares seus com militantes; o líder Paulo Portas finalmente chega aos Negócios Estrangeiros, seu velho objectivo. Tenho as minhas dúvidas... Os outros dois distinguiram-se, dizem, como parlamentares. Agora vão ter que fazer mais do que discursos. Mota Soares na Segurança Social vai demonstrar que sabe fazer contas ou então... Assunção Cristas pode fazer o que muito bem entender na Agricultura e Etc., nesta área não se faz nada de jeito há trinta anos.

Paulo Macedo vai se ministro da saúde. Lembramo-nos bem da sua actuação na DGCI e do seu polémico ordenado. Terá deixado porém saudades...
Não me atrapalha que o ministro não seja um médico. Não está a medicina portuguesa entre as melhores do mundo no que a índices vários diz respeito? E, o que é mais importante, esses índices traduzem uma realidade palpável, a medicina portuguesa é boa! Logo, pouco haverá a mexer, não é verdade, rapazes? Agora há o problema dos custos. Paulo Macedo irá interagir com o mundo da saúde the good or the hard way? Porque a mensagem é óbvia, ele vem para cortar gastos e drenar as listas de espera e os rabos de palha para as convenções e equiparados. Não há que ter medo, certo? Resta um pequeno problema a saber, e aqui falo como médico que sou: que interlocutores a minha classe oferece para dialogar com o ministro? Ora vejamos... o bastonário... bom... a malta dos sindicatos... ok... a malta das faculdades... pois, pois... afinal já estou preocupado. Espero com alguma ansiedade o nome do próximo Secretário de Estado da Saúde!

P.S.: se Paulo Macedo conseguir pôr na ordem a farmácias já será um herói...

sábado, 11 de junho de 2011

Hoje é Seguro que em Assis vai haver milagre, embora digam que há mouro na Costa...

Eu não simpatizo com António José Seguro. É demasiado opaco. Assumo que foi obrigado a tal para atravessar incólume o deserto de Sócrates, esse fenómeno geográfico que dizimou o socialismo mais do que o deserto de Gobi dizimou exploradores ocidentais nos séculos passados... Assis, pelo contrário, deu o corpo ao manifesto mais do que uma vez, perdendo nas eleições camarárias do Porto para Rui Rio - e que pena eu tive... - e sendo presidente de bancada de um Partido recheada - a bancada - de anormais, débeis e infelizes! Nada lhe tem sido fácil. Pôs um pouco de barba e ganhou em imagem. Sinceramente, parece-me boa pessoa. Vejam bem, eu acho que no PS as boas pessoas contar-se-ão hoje pelos dedos, olha uma casou faz poucos dias, eu lá estive, Deus sabe porquê...
Assis pode ser o candidato do aparelho, malgré lui... e isto é toda uma tragédia. António José Seguro não será, lembrando um gajo de que foi tão custoso livrarmo-nos, o candidato do aparelho... dele?

P.S.: ainda bem que Costa fica por Lisboa. Estes merecem-no...

segunda-feira, 6 de junho de 2011

O ano do PPC? O ano do PPC.

Sócrates não foi o pior primeiro-ministro que Portugal teve depois do Vinte e cinco de Abril. Descontando, hum.... Vasco Gonçalves, vários governos houve, nomeadamente o de Durão Barroso, o de Santana, os últimos de Cavaco e de Guterres, que também foram  maus. E, na verdade, medindo bem o tempo que Cavaco Silva esteve no poder, pode-se dizer que o Portugal de hoje foi modelado, mais do que ninguém, por Aníbal Cavaco Silva, e isto não é um elogio.

O que não pode ser dito é que, Vasco Gonçalves ou Santana Lopes incluidos, alguma vez se tenha dado por assumido que Portugal estivesse a ser governado por uma tão má pessoa, no sentido de má de carácter. Não, não acredito que Sócrates tenha sido corrupto, no sentido de ELE corrupto. Uma forma de governar e controlar é permitir a corrupção nos próximos e semi-próximos e depois manipular os seus interesses e apetites para nosso benefício e perpetuação. Uma parte importante do défice português, financeiro digo, está aqui, neste parasitismo linearmente alimentar do Estado Português por todos estes próximos de, o Estado Português que, em tempos que já lá vão, era conhecido como "todos nós". Julgo que um bom saneamento deste mundo de carraças e pulguedo que tem infestado o nosso pobre rafeiro Portugal, só poderá fazer-lhe bem, ganhar novas cores.
Agora vou falar de outro défice, e toda a vigilância será pouca para se obter a sua recuperação, o défice democrático em que Sócrates nos enterrou bem fundo. Hoje a democracia é apenas algo que acontece de quatro em quatro anos, e nem por isso. Nunca o respeitinho voltou a ser tão bonito, e a sociedade ferve de novas e profundas assimetrias, cravadas como bandarilhas no touro pelos novos senhores do país. Nunca o mérito voltou a contar tão pouco e um certo cartão tanto. A expressão "confiança política" tem sido utilizada ad nauseam para explicar o discricionarismo mais atroz. A "confiança" devia e só nascer da competência. "Eu confio que ele vai fazer um bom trabalho". O fazer bem devia ser o único objectivo, para baixo e para cima. Mas o mais importante nestas repartições e gabinetes é que haja "uma equipa", que todos puxem o barco "para o mesmo lado", ou traduzindo, que a "master's voice" seja cada vez mais e só a única a ouvir-se, os demais meros espelhismo, ecos, caixas de ressonância. Nunca em trinta e sete anos pensar foi tão passível de voltar a ser delito.
 Há uma diferença de grau entre alguns tempos dos quais me lembro, por ex. um Cavaco menos... democrático - porque pouco escolarizado efectivamente nos trâmites da democracia... - e este Sócrates definitivamente ademocrático - porque escolarizado visceralmente nos trâmites do jogo político mais sujo e detestável, sem qualquer resíduo de grandeza ou de um desígnio qualquer superior. Lembrar que a ideia era progredir na Res-Publica é ridículo, é triste, e uma desgraça. Infelizmente colectiva.
Bom, tudo isto terá acabado, não?

A ver vamos.

Foi eleito...

... o Ovo Kinder...

alerta laranja

Os nossos meteorologistas [os mais credíveis] prevêem distúrbios de identidade.
Para já, temos coelho à porta.

domingo, 5 de junho de 2011

Bom...

... e agora já está!

Mas...

.. o meu voto não contou para isto, pois não?

Bom...

...eu já votei.