Eu explico: ele é jovem, pois é de hoje. O menos jovem já é de ontem, pois tem a cabeça formatada por coisas antigas que já não servem, como lealdade, esforço desinteressado, vontade honesta de aprender ainda ou de partilhar o que já aprendeu. O profissional de hoje não é leal porque essa coisa hoje em dia não tem cabimento. Pisar um que outro pé é como ir ao ginásio. Ultrapassar pela direita, ou melhor, por cima, aprende-se na escola. Antigamente nem um lápis, hoje roubam-se clientes, casos, ficheiros, informações,
you name it. O profissional de hoje assim costuma ir longe. Mas só assim. Porque o profissional de hoje na essência é burro. Não dá para falar com ele. Não acrescenta, não sobe a maré quando ele entra na sala. Mas quando ele entra na sala, atenção, é melhor fechar as gavetas à chave porque ele vai começar com aquela conversa mole de funcionário esperto onde nada se diz nem se oferece, à espera que a impaciência do profissional de ontem com a merda derramada, o esterco providenciado, leve ao deslize, e algo de importante saia. E aí, o profissional de hoje começa a aplicar o seu uppercut mental, roda, retira, mira e encesta, e faz mais um negócio espectacular, sempre à vista do seu superior que por acaso ia a passar, e acaba por ir para casa mais cedo, embora lamentando sinceramente (é sempre sinceramente que ele lamenta), mas, enfim, morar providencialmente longe, tu, compreendes, não compreendes? O profissional de ontem só pode compreender, afinal, por alguma razão ainda por ali anda, algum defeito terá, "só pode portanto ser ainda mais burro do que eu, logo..."
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