domingo, 14 de novembro de 2010

De como a poesia está presente mas é parca ajuda.

Ontem, por compromissos profissionais previamente assumidos, tive que dar um curso a colegas mais novos dentro da minha área de trabalho, curso que aconteceu ao início da tarde no antigo Meridien. Este curso repetia grosso modo um curso similar acontecido há um ano, pelo que o trabalho de preparação nem foi particularmente custoso. O tempo passa, algo podia ter mudado no que se sabia em 2009 para o que se sabe em 2010. Reciclei, aqui e ali refiz. Podia ter feito melhor. Não tive tempo, motivação, rasgo, empenho, coração. Ficou uma coisa assim em forma de "mais-ou-menos", onde ao rever-me fico ainda mais bem disposto do que já de base ando. Enfim...
Nisto pensava, e em outras coisas, enquanto esperava pelos meus "alunos", pen drive já anexada ao portátil da organização. Tomara um café no piso inferior, e enquanto o tomava estivera a reler um livro de poesia que recentemente me impressionou, de Amadeu Baptista, "O Ano da Morte de José Saramago". De repente resolvi abrir as minhas pobres palestras com uma frase retirada do livro em questão, e que me tinha impressionado:

"A desgraça de um país mede-se na distância que vai das instâncias do poder / à esperança dos seus habitantes, (...)".

Ministradas as prrimeiras duas palestras e concedido o intervalo, busquei uma reabertura das hostilidades condigna, e nada melhor que o título do panfleto escrito n'"Os Gatos" em 1889 por Fialho de Almeida, e agora com edição isolada na Assírio & Alvim:

"Carta a D.Luís Sobre as Vantagens De Ser Assassinado."

Acho sinceramente que os meus educandos só ganharam com estes dois flashes de neon sobre os dias de hoje, eles que dedicadamente se preparam para pertencer a uma elite, émulos de Esculápio, sucessores de Galeno.
Espero que daqui a anos, quando nos cruzarmos nos corredores do hospital ou, o que é o mesmo, do NorteShopping, o facto de me evitarem o olhar seja apenas porque perceberam, a vida atingiu-os com o murro do costume debaixo dos queixos e afinal perceberam e custa-lhes ver em mim as marcas da mesma agressão, com vinte anos de avanço, ou atraso, como queiram chamar.
Eu, por mim, cá vou estando. Leio livros, almoço, e também janto. Faço uns cursitos "mais-ou-menos". E confesso que esta coisa da crise me preocupa na exacta medida que está difícil chegar com o ordenado até ao fim do mês. E é só.

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