quarta-feira, 13 de outubro de 2010

as guerrinhas dos cem anos

depois de cem anos, o que fica para comemorar? uma réstia de orgulho na mudança de bandeira? uma simples troca de fardas? um apear de cavalo entre batalhas? uma questão de honra? um gesto ideológico?
depois de cem anos, o que fica para comemorar? uma modernidade política? uma ideia estrondosa de serviço público? uma reforma civil? um discurso da memória simbólica? uma escola de cidadãos?

ou a evolução histórica da nossa identidade, tornada democracia?

depois de cem anos, que cultura, que História e que conquistas ficaram inscritas neste pedaço fundamental de país que não se encontra em nós, quando o olhamos?
depois de cem anos, quantos séculos se intrometeram entre o voluntarismo revolucionário do povo e a intransparência acomodada da nobreza?
depois de cem anos, que reformas sociais, que estabilidades e que justiças ficam para comemorar?

há cem anos, os republicanos decidiram que o reino carecia de mudança e hoje o que fica para comemorar circunscreve-se a um punhado de eleitos que, em alturas como esta, se aplaudem mutuamente, entre uma taça de champanhe e uma fatia de bolo-rei.

hoje, um simples orçamento, inventa torneios pouco saudáveis e toda a gente que ser rei da república.

os arautos noticiam guerrinhas de instante em instante e, de vez em quando, Passos Coelho grita: “ o Sócrates vai nu!”.

e tu, Passos Coelho, não seria melhor vestires qualquer coisa?

Nelson Ferraz in “Maia Hoje”, 08.10.2010

1 comentário:

  1. Caríssimo:
    Não podia estar mais certo. Sobre a República linko este belo texto do JPP - ou melhor, deixo aqui o url porque melhor não sei fazer: http://abrupto.blogspot.com/2010/10/o-discurso-republicano-dito-na.html

    Outra coisa: não confundir a nudez de JS com a de PPC. A nudez de Sócrates é simplesmente obscena, e é infelizmente a imagem em espelho deste nosso recente Portugal, visto num daqueles espelhos de aumentar...

    ResponderEliminar