quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

metamorfose ou motim?

“Eloge de la métamorphose”
Edgar Morin, 10 Janeiro 2010
Jornal “LE MONDE”

“Pour éviter la désintégration du « système Terre », il faut d'urgence changer nos modes de pensée et de vie. Tout est à transformer pour trouver de nouvelles raisons d'espérer. Quand un système est incapable de traiter ses problèmes vitaux, il se dégrade, se désintègre ou alors il est capable de susciter un meta-système à même de traiter ses problèmes : il se métamorphose. Le système Terre est incapable de s'organiser pour traiter ses problèmes vitaux : périls nucléaires qui s'aggravent avec la dissémination et peut-être la privatisation de l'arme atomique ; dégradation de la biosphère ; économie mondiale sans vraie régulation ; retour des famines ; conflits ethno-politico-religieux …”


Quando uma tendência “tão de incapacidade” assume proporções de uma regra incontestada, torna-se óbvio que a meta da nossa iluminada espécie poderá tornar-se numa coisa complicadamente inesperada. Mas… inesperada? Até que ponto? Será que estamos, assim, tão distraídos?

Ainda não dependemos totalmente da Natureza, mas deveríamos preocupar-nos com a possibilidade de isso voltar a acontecer um dia destes.
Actualmente, somos o resultado, quase total, de nós próprios e isso não é uma boa notícia nem abona muito a favor das nossas faculdades já que essa dependência – por um lado consentida, por outro lado inevitável – não tem por base o humanismo necessário mas sim a sua impetuosa ausência.
Vamo-nos banhando de estupidez: damos ouvidos a economistas bem pagos, acreditamos em comentadores bem pagos e estamos nas mãos de uma manada de criaturas bem pagas. O pior é que essa gente nos vai merecendo sucessivos créditos pela força repetitiva das suas aparições em tudo que é sítio e montra. E nós vamos aceitando essas vitaminas estragadas de sabedoria que nem sequer é académica.
Um dia destes, será um dia de mudança. Não uma mudança expectável, coerente, programada, sensata e que já deveria ter acontecido de uma forma gradual. Não.
Um dia destes, será um dia de transformação abrupta, rebelde, desgovernada, porque os tempos conturbados assim o começam a exigir.
Há uma urgência crescente para que uma metamorfose aconteça e que esse seja o ponto de viragem para uma reorganização das ideias, do universo e de tudo o que valha a pena preservar ou reinventar. Mas como?
Edgar Morin propõe-nos a semente de um motim. Não o diz, talvez não o queira dizer, mas não precisa de o fazer.

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