sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

O caso de assédio sexual no seminário do Porto que nestes dias foi notícia.

Quarta-feira foi notícia denúncia de uma situação de assédio sexual acontecida nos anos oitenta no seminário do Porto, sendo o protagonista o bispo Carlos Azevedo, ex-auxiliar de Lisboa e ultimamente colocado em Roma, e o denunciante o padre José Nuno, capelão do Hospital de S.João.
Hoje falei sobre esta história com três pessoas que muito prezo. Foram sempre diferentes as considerações e as conclusões. Vamos conversar um pouco...
 
O bispo Carlos Azevedo está eclesiasticamente morto, hoje por hoje. Um "caso" destes, acontecido há trinta anos, não se confirma nem se desmente. A definição de assédio sexual era outra nos tempos de Reagan e de Gorbachev. É estranho dizer isto, mas é verdade. Porém, esta caixa de Pandora ninguém a vai conseguir fechar, sendo uma palavra contra outra, ou pouco mais.
 
Apareceu nas televisões o bispo "incriminado" a declarar-se contra a pedofilia. O  veneno é óbvio e muito baixo, muito sujo. O que pode estar em causa é assédio homosexual entre adultos. O bispo Carlos Azevedo seria mais velho do que os seminaristas o mesmo número de anos que o meu pai é mais velho do que a minha mãe... A pedofilia não tem nada a ver com esta história, a questão do celibato dos padres sim, possivelmente, provavelmente, ou mesmo, até. Portugal é um país que hoje aceita o casamento homossexual, certo? Os homossexuais casam entre outras razões porque têm relações sexuais. Portanto, o celibato não é notícia...
 
O padre José Nuno é o capelão do meu Hospital. Fez uma denúncia, pelo que li, com vinte, trinta anos de atraso. Existe meia dúzia de coisas, de pessoas, que são realmente excepcionais no meu Hospital. O padre José Nuno é uma delas. O ser excepcional não é ser perfeito. É ser muitas coisas, com algumas destas coisas sendo muito boas. É ser fantasticamente humano. Temo muito pelo padre José Nuno. E não consigo explicar bem porquê.
 
Como em trinta anos não se consegue perdoar? Eu gosto muito do padre José Nuno. Portanto acredito nele. Portanto acredito, e com ele sofro, o facto triste sobre todos os factos tristes desta história, de o perdão não ter sido possível. É terrível a solidão dos justos. Temo pelo padre José Nuno porque, entre outras razões, ele está/é muito mais sózinho do que eu, já antes assim eu o via, agora ainda mais.
 
O meu padre José Nuno, eu sei que ele permitirá que eu assim o chame, publicou recentemente um livro sobre a morte nos hospitais, brilhante extensão da sua tese de doutoramento. Não comprei com medo do que podia encontrar no livro, perdoe-me, meu amigo.
 
Estou muito triste com tudo isto. Quem acredite em Deus precisará de ajuda agora como nunca antes precisou. Use-a, meu amigo, e em abundância.

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