somos 3,14 vezes mais egas do que o que estaria previsto
no argumento da rua sésamo.
somos 3,14 vezes o feminino do ego no plural do insulto
e ficamos de trombas quadradas na fotografia lamecha
desta circunferência circular e democrática.
não. não somos quadrados como os oradores
de circunstâncias austeras.
somos redondos e sem esquinas.
somos o raio, o relâmpago, o trovão e a chuva miudinha
dos comícios regados a maduro tinto.
e depois perguntam-nos pelo que devemos aos mercados
aos economistas e aos diabos dos divinos carteiristas
em desgovernos e sermões de conversa fiada.
somos 3,14 vezes erre dois como o Pierre
o dos apóstolos
que valia por mil secretários de estado
em mau estado de conversação como estes de agora.
somos 3,14 vezes mais egoístas do que um narciso qualquer
e é exactamente por isso que nos quedamos
à beira do rio olhando o nosso tronco dobrado e liquefeito
na superfície aritmética das margens.
não somos os coitadinhos que apregoam nem os queixinhas
de um terreiro de mentiras.
somos a razão constante entre a circunferência de um círculo
de ciclos em negação
e o diâmetro hipotético da sua irreversibilidade quotidiana.
somos 3,14 vezes mais egas do que seria suposto sermos
nestes contextos tão adversos
que nos abraçam de vazios e de medos
mas mesmo assim sobrevivemos à canícula dos algozes
e gostamos de nós.
sim, somos PI egas. e depois?
in "Godomar Económico", Março de 2012
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