A minha filha vai para uma escola privada. Está no 8º ano, ano difícil, não tem amigas, tem uns filhos da puta disfarçados de jovens adolescentes que lhe andam a foder o dia-a-dia. A minha filha vai para o privado.
Ora bem...
Uma escola, privada, pública ou norte-coreana, é um ecossistema de difícil equação. Ao contrário do que se pensa, a coisa não é apenas alunos contra professores e está dito. É alunos contra alunos contra alunas contra alunas a favor de alunos a favor de alunas que por sua vez estão contra professores que estão contra professores que estão contra professores e não esqueçamos os funcionários que contra estão o existirem pais que estão contra todos e também entre eles contra estão, etc.
No caso da minha filha o coisa resumia-se a 75% de indiferença, 25% de aborrecimento e 10% de animosidade. Quem vamos chatear? Aquela miúda! E vai de insultar, atirar-lhe coisas, roubar-lhe material, picar com a caneta, insultar outra vez...
É difícil fugir ao tema e eu não vou fugir: na escola pública de hoje falta autoridade. É importante que o aluno saiba que se prevarica será castigado. Que a sua liberdade acaba onde começa a do outro. Que os seus actos podem ter e terão consequências sobre o próprio. Isto, claro, também se aplica ao professor: no que diz respeito a avaliação, atitude proactiva, boa prática pedagógica. Mas a verdade é que o pivô é o aluno. O aluno é quem está ali a aprender. Aluno mais do que ninguém, precisa de regras. Eu sei que a escola não será para educar. Mas deve ser um espaço onde a má educação não deve ser tolerada. A equação escolar pública hoje tem um desequilíbrio, e o tabuleiro do xadrez acima enunciado está desequilibrado em desfavor do bom professor, do bom aluno, e, sobretudo, do mais frágil. A escola não é um roseiral. Mas não deve ser a tropa. Aliás, por alguma razão o serviço militar obrigatório foi extinto. A formação do carácter parece que é para acontecer noutros terrenos. A minha filha negou-se a voltar a uma escola pública porque, disse, "é preciso disciplina!".
Acima coloquei uma percentagem de 75% no item "indiferença" para explicar o que aconteceu com a Cata. Falo de qual indiferença? A matéria dada nas escolas é ainda pretty much a mesma do meu tempo. Calha que, hoje, a inundação informativas dos jovenms é muito diferente do que era no meu tempo. O meu 8º ano foi em 1978/9. Televisão dois canais. Livros comprados com dinheiro contado. Em minha casa não havia jornal diário, aliás por uma estranha idiosincrasia nem telefone havia! A internet estava por inventar. Frequentava-se compulsivamente uma biblioteca municipal! E ouvia muita rádio, ó se ouvia! Se em 1978 já era difícil perceber o para quê dos polinómios, das funções e do completo domínio fonémico-semântico-gramatical da língua, então hoje... E o grosso dos pais não ajudarão nisto, demitidos por uma má vida e o só terem quatro a oito-nove anos de escolaridade mal-atamancada! Aqui o desafio: a escola hoje só pode ser mais do que transmitir a mesma merda de há 25 anos mas em powerpoint! Não é. Daí que grande parte dos alunos linearmente não percebem o que andam para ali a aprender e para quê. A escola é objectivamente um castigo, uma prisão. Só que em suave, pois não há a tal disciplina. Está o caldinho feito, claro que só toma quem quer. A minha filha não quer. E é minha função estar de acordo.
Então viramos para o cheque-escola? Por mim sim, porque a partir do mês que vem as minhas despesas com a escolarização da Cata vão duplicar... :) e, agora a sério, por mim sim, porque as minhas despesas com a escolarização da Cata... vão duplicar! Não sei se o cheque-escola é a solução mas sei que a escola é hoje mais assimétrica do que no meu tempo. Culpados... Gente que fez a escola pública há 25 anos comigo - e hoje são médicos ou toxicodependentes ou políticos de merda... - hoje estaria na privada ab initio.
Agora - também - a sério: como não pode haver a Medicina mais-ou-menos, para quando a Escola não-mais-ou-menos? Disciplina e Inteligência, precisam-se! Os computadores nem por isso, tá? A inovação está no gesto, na atitude, na expressão. Eu sei que Lisboa não ajuda, mas... E, já agora, e para terminar, professores da escola pública, parem de me recomendar a colocação da minha filha numa escola privada: já pus!
História pública
Há 15 horas
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