quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Haverá vida depois do corte?

O Orçamento de Estado de 2012 é o Orçamento do Corte. Haverá um antes e um depois deste Orçamento.
E, famintos, desesperados, os nossos olhos já se voltam para 2014 - até com a secreta esperança de o alguém do costume começar a preparar eleições aligeirando o corte...
Mas não. Os centros de decisão chamam-se e vão continuar a chamar-se Berlim e Beijing (onde está o dinheiro), Atenas e Roma (onde estão os que mais precisam do dinheiro).

Portanto, dêmos o corte como tido e assumido. Se podia ter sido diferente? Provavelmente podia, assim tivéssemos por ex., votado diferente nas penúltimas eleições. Ele há medicamentos cuja janela terapêutica é curta: ora a dose é insuficiente, ora a dose já é muito demais, porque tóxica. Portugal falhou a sua janela terapêutica e, agora, não há muito a fazer. Tudo vai ser vendido, rapidamente e mal. Mas ninguém compra o Aeroporto de Beja, ou a CREP, ou a Auto-Estrada Mira-Figueira-Leiria. E precisamos de muito turismo, mas fecha-se a Linha do Vouga. Tirou-se o comboio à Trofa para não lhe devolver Metro. Voltamos à miragem do petróleo e das minas, miragem cíclica em Portugal  - quantas vezes já se falou antes do ferro de Moncorvo, uma das razões invocadas nos anos oitenta (que bom ter memória...) para navegabilizar o Douro?
É o PSD o partido português por excelência - um partido e um país hoje por hoje de ideologia quase-zero - e, esperemos, enquanto espelho de um país deve estar a sofrer por aquilo que está a infligir ao país que o inventou. Por isso falou Cavaco Silva do corte dos subsídios, a sua escola económica não é a de Vitor Gaspar. A Vitor Gaspar a palavra "público" queima-lhe a língua, o palato, a garganta. Vitor Gaspar quer fazer de nós uma espécie de Eslováquia com Algarve e mar. Portanto com escassa protecção social, fáceis despedimentos, saúde pública periclitante. Tem o problema de metade da população trabalhadora ainda não ter mais do que o sexto ano de escolaridade, logo como produzir mais? O modelo deixa então de ser a Eslováquia e começa a ter algumas cores Filipinas...

É fácil dizer que Cavaco Silva tem culpas no cartório. Talvez a história económica peça uma observação mais atenta destas coisas. Quando Cavaco Silva chegou ao poder o Portugal Privado estava pouco mais do que recém-criado, ou recém-voltado do Brasil. Lembro-me de Cavaco Silva a inaugurar... a IP-4 até Vila Real. Já muita água desde então correu debaixo das pontes. Portugal precisou de muito empurrão público para se reacender, e os privados agradeceram a boleia, oh se agradeceram. Por isso no que aos dinheiros portugueses diz respeito os Bancos e o Estado parecem como aqueles irmãos siameses, que não há como separar... O Estado alavancou os bancos e os bancos alavancaram o estado. Sucede que ninguém avisou que, em algum momento, a coisa era para parar. Que já havia Auto-Estradas que chegue. Que o Euro-2004 era uma tolice saloia. E que um pais não consegue sobreviver eternamente construindo e consumindo-se a si próprio mas sem aparelho produtivo que preste. Adeus agricultura, pescas, indústria. Viva o Continente.
Querem os maiores culpados? É simples! António Guterres, José Manuel Durão Barroso e José Sócrates. Sendo este último um caso de polícia ou de internamento psiquiátrico por inimputabilidade, uma coisa ou outra....

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