sexta-feira, 11 de junho de 2010

disparate

estamos inertes numa euforia remota de sequências fugazes
esgotadas no absoluto disparate das reflexões estratégicas
e impostas da cidadania difícil como escarpas

temos connosco a doutrina simbólica dos contornos decifrados
das coligações entre deuses e heróis que num erro incansável e repetido
abrem covas no perfil transitório das cerimónias habituais
e desinteressantes do quotidiano fantasmagórico

não sei quando iremos aprender uma nova forma de existir
sem nos habituarmos à ideia submissa dos profetas inteiros
que nos obrigam a uma conduta de bobos sem memória

somos o disparate amedrontado das questões entre vírgulas
e das ideias fraquíssimas que continuamos a deixar morrer
em berços de projecto incómodo como lâminas

olhamos para todos os lados em busca de uma festa
capaz de construir uma alegria breve que seja
perguntamos a toda a gente pelos contentamentos simples
e fundamentais do sujeito em desespero
e a resposta chega a galope no silêncio barulhento e anormal
das criaturas oblíquas e parlamentares
a quem ainda não conseguimos dizer adeus


Nelson Ferraz, in “Maia Hoje”, 11 de Junho de 2010

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