quinta-feira, 24 de junho de 2010

AS CANAS

João chegou, de bicicleta, depois de António sair.
- Pedro, a seguir és tu!
Já o sabia, disse ele. E afastou-se, comendo farturas.

A cascata é íngreme, musgosa e cheia de carneiros. A banda toca marchas de enfiada e os músicos são azuis como os populares.
O homem dos chouriços, pintado de laranja, foi coroado pelo moleiro branco e há patos, às riscas, entre os canaviais de palha e os manjericos às tranças. A água vai benzendo, molhadamente, as margens barulhentas da romaria enquanto os balões descem, entre as nuvens de silicone deficitário e os olhos esbugalhados dos parolos.

- Alguém viu o padre cor-de-rosa? E o pastor de cores baças? E os peixes cinzentos? E os tachos dourados? E as louças vermelhas?

Ninguém responde à pergunta de João.

- Alguém quer caldo verde?
Todos querem, João.

Pedro está pensativo, faz uma quase-estratégica dieta.

- Daqui a nada, vais comer a sério, Pedro. Deixa sair aquele senhor!

Pedro, pensativo, sorri, com voz grave, para a roulote vermelha e verde.

E agora, Zé? Onde estarão, daqui a nada, as tuas canas negras, outrora foguetes, neste espaço poucochinho entre os folhos das festas?

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