Ainda aqui há dias ouvi, de uma conhecida, à porta da escola onde esperava a minha filha, a piada do costume: "a Bilinha perguntou-me se o primeiro de maio era o dia dos trabalhadores porque é que ninguém trabalhava, e eu não soube o que responder-lhe!".
Ultrapassado o sorriso de circunstância botânica, minha cara conhecida, aqui vai uma explicação, porque todo eu sou ajuda. Em 1886, em Chicago, uns valentes rapazes estavam a manifestar-se - bons tempos, manifestações! - por uma utopia - 8 horas de trabalho, 8 horas de lazer, 8 horas de descanso. Morreram umas dezenas, abatidas pela polícia. Era um de Maio. O feriado foi sugerido no início do século XX e é cumprido em mais de 80 países. Em muitos mais há um "dia do trabalhador" em data diferente, geralmente assinalando eventos similares mas que ocorreram no respectivo país.
Sempre o jogo foi desequilibrado, entre o assalariado e o patrão, o dono, sempre foi desequilibrado. E o equilíbrio actual, que em grave perigo anda, foi conseguido em dias como aquele, por isso o celebramos. Andamos preocupados pelo perigo que um direito corre nestes dias: o direito ao trabalho. Lembremo-nos também que outro direito não deve soçobrar, o direito a não trabalhar, a descansar, a disfrutar da vida, a dormir porque a vida o pede, porque o trabalho, o corpo, a mente e o coração sugerem, exigem, só se entendem com limites. Estes limites pedem hoje activamente uma defesa firme.
Ontem fui ao Pingo Doce sacar um jantar e um almoço. Um cartaz de metro por metro e meio avisava que hoje, um de Maio, a loja estava aberta. "Visite-nos!", dizia. Mas a visita não era ao Sr. Jerónimo Martins, por quem tenho aliás muito respeito, mas sim aos seus pobres trabalhadores...
Sem comentários:
Enviar um comentário