Muito se tem falado sobre as SWAPS - instrumentos financeiros com que gestores da coisa pública em tempos idos pretenderam precaver uma reviravolta dos mercados, coisa que efectivamente aconteceu mas claramente não como eles previram. Lembro-me de em 2010, no verão, ter ponderado seriamente converter o empréstimo do meu crédito de habitação para uma taxa fixa, não indexada à Euribor. Ponderei, ponderei, e terá sido a inexpressiva cara de quem esperava a minha resposta, uma tarde num centro comercial, terá sido a minha proverbial desconfiança da palavra "fixo", o certo é que não o fiz, contra alguns conselhos, e assim poupei algumas centenas a milhares de euros.
Sim, era o meu dinheiro, sim. Enquanto os gestores em questão jogaram com o "nosso" dinheiro. Sim, eles enganaram-se, erraram, jogaram especulativamente - todos, só alguns, os do PSD e que estão no governo actual não? - e fizeram-nos perder muito dinheiro, uma barbaridade. Vai ser e já foi, muitos já foram demitidos, há quem queira sangue, isto é, julgamentos.
O nosso dinheiro chama-se Orçamento de Estado. Como funcionário público é o meu dinheiro que me paga o salário. Eis uma razão - mais uma, não a mais importante - para eu ser exigente com o meu trabalho. O governo actual, todo, governa o nosso, o meu dinheiro. Dizem: sempre foi assim, e sempre será. Também. Na Islândia os governantes responsáveis pela bancarrota do país foram julgados. O partido deles voltou o mês passado ao poder. Isto não é fácil, pois um dia ainda prendemos o nosso Presidente da República. Onde a linha da imputabilidade judicial vs a mera responsabilidade política? A verdade é que as culpas no cartório implicam a existência de um sem fim de cartórios por este país fora, desde a mais longínqua autarquia até ao mais alto magistrado da nação. Aníbal Cavaco Silva inventou o país actual, país que inaugurou a IP4 em festa e agora nãp é capaz de acabar de furar o Marão. Com a excepção dos tempos FMI-supervised, um esboço de contenção no 1º governo Guterres e uma tentativa de moralidade pública com Manuela Ferreira Leite, a história dos últimos trinta anos de governação é uma sucessão de erros, enganos, equívocos e incompetências, onde a porta aberta ficou sempre à espera que o último a fechasse. O último chegou agora.
Com isto não é de todo minha intenção desculpabilizar os SWAP's, mas dar-lhes um pouco de perspectiva. As PPP's foram feitas com o meu dinheiro, idem a educação, a saúde, as autoestradas... Benavente tem uma autoestrada porque eu paguei! Beja tem um aeroporto porque eu paguei! Eu paguei o Euro 2004! Quem é preso por isto?
Por outro lado o meu dinheiro vai cada vez menos para sectores - a saúde, o apoio social, etc. - embora eu discorde desta reorientação. O meu gestor de conta, o dr. Vítor Gaspar, diz-me que isto se resume a três palavras: "não há dinheiro", e pergunta-me qual das três palavras eu não entendo. Eu respondo-lhe: "então eu morro". Qual das três palavras eu preciso explicar?