sábado, 28 de julho de 2012

Notícias das 20




Nunca a informação televisiva conseguiu ser tão eficazmente malévola como agora, nestes tempos de valores indefinidos e limitados pela ignorância institucional daqueles que nos vão, sucessivamente, desgovernando.
Hoje, as notícias que nos chegam, são as notícias do desespero galopante, tido como  inevitável e confuso e que, aos olhos e às bocas de quem o transmite, tem uma permanência de fado e uma imutabilidade quase religiosa que lhe conferem a beleza imprópria da manchete formatada.
E é esse desespero triste que, todos os dias, nos é dito pelos ares empolgados dos senhores e senhoras dos noticiários, como se as coisas só fossem isso, só girassem à volta disso e não existissem mais mundos para lá disso.

Às vinte, os canais vomitam amarguras consideradas invencíveis pelas vozes dramáticas de uns, as montras dentárias de outros e os tiques emotivos de outros mais.
Cada um por si, os locutores limitam-se, apenas, a servir os propósitos mais negativos de uma televisão trágica, ao serviço de sensacionalismos baratos, sem qualidade e sem remédio à vista.
Todas estas más novas parecem as coisas mais importantes da vida e, vai daí, três quartas partes dos telejornais estão sempre garantidamente preenchidas com as misérias quotidianas repetidas até à exaustão, vistas com zoom gigantesco e que são apresentadas como uma espécie de filosofia da desordem, banalizando o caos emotivo a que fica exposto o cidadão comum.

Mas o que é estranho (será?) é que quando acontece algum triunfo desportivo ou algum falecimento de uma figura pública, as três quartas partes dos mesmos telejornais passem a ter estes assuntos como tema principal, reservando um quarto das quatro partes, para todas as colecções de desgraças e tristezas que, vai-se a ver, talvez não mereçam mais do que isso.



in “Maia Hoje”, 27.07.2012

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Sem nível nem vergonha

Continuamos a eleger gente que tem muito mais que fazer.

domingo, 22 de julho de 2012

O fecho de determinados Serviços de Urgência.

Quando em conversa casual à uns dias comentei: "Olha, vão fechar a urgência de Santo Tirso!" comentaram: "Já vão tarde!" Porquê?

Como quando se fechou determinadas Urgências de Obstetrícia, a questão que se coloca aqui volta a ser competência vs proximidade.
Pontos a reter:

a) Para situações graves as urgências de proximidade são provavelmente uma perda de tempo. O "cut-time" definido por este relatório é porém de sessenta minutos, talvez excessivo, quase de certeza excessivo.

b) Os 50% de situações de urgência não urgentes pedem uma educação da população portuguesa e uma interrogação: porquê esta fixação dos portugueses em ir para a urgência? Haverá algo de psico-dramático neste correr para o SU que não vai desaparecer com duas tretas. Afastar o SU apenas vai acrescentar ao masoquismo e à catarse da ida à urgência, não?

c) Os SASU's  e os médicos de recurso estão ou não afogados com a falta de centenas de médicos de família que passem receituário, mediquem gripes, revejam edemas?

d) O reforço da importância das Urgências de Faro, Viseu e Vila Real só pode ser enaltecido.

e) Na avaliação do SU's do Algarve parece-me que, claramente, a sazonalidade não foi tida em conta. E este é um problema que não pode ser resolvido apenas "depois".

f) Há médicos a mais? Em determinadas especialidades sim. Médicos de família não. Médicos de emergência capazes não. No que diz respeito a estes está por determinar o custo-utilidade da criação da especialidade "Medicina de Emergência"  em Portugal.  O fecho das contratações hospitalares e não deve ser um pretexto simples para o "refueling" das Urgências a preços de saldo.

g) pergunto se a articulação com o INEM - carros e helicópteros - foi adequadamente salvaguardada, tendo em atenção a perda de proximidade sobretudo no interior, mas não só.

h) se não há Médicos de família suficientes como vamos reforçar os SASU'S?

i) a rede de SU's tinha sido reformulada recentemente por outra comissão há poucos anos. Porquê outra comissão e não uma reflexão de acompanhamento das consequências das decisões da comissão anterior? O mais importante deve ser a decisão correcta e não quem decide.

j) quando se refere que tudo isto acaba por ser uma decisão política não nos podemos esquecer que não estamos a vender a RTP. Se na comissão estavam os que mais sabem qualquer alteração deve ser muito bem explicada.

k) esta reorganização não pode ser lida como apenas uma forma de economizar. O problema é que quando ao mesmo tempo cortamos e acrescentamos, os cortes acontecem logo mas os acrescentos ou não acontecem ou depois são "redecididos" porque "afinal"...

m) e volto aos carros e aos helicóteros. Eu sei que no distrito de Bragança mora menos gente que no concelho de Matosinhos e no concelho de Miranda do Douro mora menos gente que em Pedrouços-Maia, mas... concebe-se Portugal sem Miranda adequadamente atendida? E Zamora, a cidade onde Afonso Henriques se sagrou cavaleiro, não fica assim tão perto...

n) as pessoas cresceram a ver a medicina de proximidade como uma coisa boa e este é um paradigma mental que não muda assim tão rapidamente. Os comentários como aquele por onde eu comecei nascem de uma má experiência pessoal mas não são ainda a noção generalizada. Por outro lado a aprendizagem não deve acontecer pela exposição iterada da população a medicina menos competente. Esta acontece em qualquer urgência, em qualquer hospital. No entanto, mecanismos de "double-check" minimizam o risco de má medicina - que, sim, existem por enquanto mais nos grandes hospitais. Porque nestes a ordem é também para poupar, esperemos que o "double-check" não desapareça do mapa da medicina portuguesa.

o) em tempos que já lá vão o "double-check" chamava-se formação e era automático...

domingo, 15 de julho de 2012

Rui Ramos

Ontem, em artigo de opinião publicado no "Expresso", Rui Ramos escrevia o seguinte a propósito da greve dos médicos: "Para perceber a revolta, é preciso começar por perceber a razão pela qual estas congregações profissionais estão entre as mais bem pagas e protegidas. Quando os profissionais da saúde protestam por agências privadas de recrutamento lhes oferecerem tanto como a uma empregada doméstica, revelam tudo: só recebem na medida em que o Estado lhes paga ou manda pagar mais. Ou seja, não há empregadores e clientes dispostos a pagar-lhes o mesmo que lhes pagam os contribuintes.
Na nossa sociedade, o Estado é a única via através da qual certas classes profissionais - e repare-se que falo de classes, não de indivíduos - conseguem arrancar à sociedade o prestígio e o rendimento a que aspiram. Provavelmente, se o serviço doméstico fosse um serviço público, também os seus profissionais seriam recompensados muito acima das tabelas atuais. Dizem alguns: sem o Estado, não haveria determinados serviços. Não: o que não haveria era determinadas corporações com as vantagens de que hoje disfrutam." 

Não está no meu poder conseguir comentar adequadamente este texto, de tão odioso. Noto que uma ressalva foi feita - suponho que ao médico assistente e à família Lobo Antunes.
Rui Ramos é hoje o historiador oficial do regime. Se não vamos conseguir mudar o regime mude-se ao menos o historiador.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

os médicos e o(s) ministro(s)

tenho alguns amigos que são médicos privilégio meu não sei como têm eles tempo para ter amigos como eu que não igual nos seus espaços mas percebo bem que sejam tão quase-amigos de tanta gente eles que vivem o que fazem e o que fazem tem a ver com os outros com os problemas dos outros que são tanta gente.

os meus amigos médicos têm uma alma grande que nenhum alfarrábio de por exemplo duas mil páginas tem conseguido descrever ou definir mas mesmo assim de vez em quando alguém que não é médico mas é doutor duvida disso e como não tem fé da boa nem senso com validade prescreve asneiras ao desbarato injectadas de uma ofensa genericamente inútil para o que quer que seja digno de menção ou projecto.

os meus amigos médicos são pacientes entre as zero e as vinte e quatro e não se distraem com simpósios feitos por chinesices baratas como estas que por aí circulam vindas de paragens austeras e desconhecidas e com intuitos de uma ignorância desestabilizadora dos nacionais serviços que adoecem perante os ataques repetidos mas e ainda bem saudavelmente condenados ao fracasso.

sábado, 7 de julho de 2012

Reduzir o Estado.

Não encontrei ainda um raciocínio sério onde um emagrecimento sério do Estado servisse para inverter esta situação onde estamos. A Educação não deve diminuir. Deve sim mudar. A Saúde - estamos falados - alguém acha que o futuro da saúde portuguesa é a Medis, Cirurgia Torácica, Transplantes Hepáticos e Oncologia incluidos?
Parece que afinal tudo se resolve se vendermos a RTP! Pois venda-se, eu pessoalmente até estou farto da Catarina Furtado e do Jorge Gabriel! Mas... não passa por aí...

Requisição Civil?

Paulo Macedo parecia-me uma pessoa séria. O acumular de notícias negativas sobre a classe médica nos últimos quinze dias e, agora, a ameaça de uma requisição civil mostram que, se calhar, não é.
O que não vai acontecer nos dias de greve? A rotina médica não urgente - consultas, meios de diagnóstico, cirurgias. Aborrecido? Cruel? Vamos fazer umas contas cruéis: quatro euros.hora é aproximadamente setecentos euros.mês para uma licenciatura de seis anos seis - não um, Miguel, um não. Isto da medicina não é uma profissão qualquer. Os médicos fazem greve para defender a qualidade de uma prestação de um serviço que só por defeito se pode assim denominar. No SNS acontece formação, ensino, investigação, para além de acontecer um dos melhores sistemas de saúde europeus, reconhecido internacionalmente.
Bom, vamos lá então fazer greve, certo?

Liability

Nunca pensei que Miguel Relvas se tornasse numa "liability" tão cedo. Primeiro o espião, depois a pressão baixa à jornalista, agora uma licenciatura com quatro cadeiras apenas. Deve sair. O ideal é que se demita. Não sendo assim, ser demitido.
O que pensará o Presidente da República de tudo isto? Jorge Sampaio já teria actuado.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

RSI

O Rendimento Social de Inserção tem um nome giro. Não sei bem é como cem ou cento e cinquenta euros por mês podem inserir quem quer que seja e no quê. Com frequência os beneficiários do RSI moram em casas de Renda Social. O Estado decidiu que um favor está bem, dois é demais. O benefício de uma Renda Social obrigará, parece, a correcções no RSI que o poderão reduzir para valores tipo... quarenta, cinquenta euros, ou nem isso. Tipo um jantar no DOP, ou nem isso.

Inserção? Eu sei que estão a tentar, mas eu não estou a rir.

ERC?... ou BURP?

Isto não tem pés nem cabeça e indica uma impunidade retinta muito grave, tendo uma vez mais o Relvas de quem se fala como artista principal. Diz Carlos Magno que "saber gerir paradoxos faz parte da vida". Eu sei a que geração Carlos Magno pertence, em que barricadas ele andou, há uns 30-40 anos. O que nos tramou e mantém tramados é a aprendizagem que a geração de Carlos Magno fez de aprender a gerir o paradoxo que é abdicar de todo e qualquer princípio de forma a presidr inocuamente a um palácio de mordomia chamado "Entidade Reguladora da Comunicação". Nos entretantos Carlos Magno deixou de comunicar com a realidade, em proveito próprio...

O Plágio e as consequências que dele devem advir.

Na Roménia há uma crise de regime grave. Já se demitiram dois ministros da Educação por falsificação de habilitações. O primeiro-ministro foi levado a tribunal por "plágio" num seu escrito, sendo que ele por sua vez quer destituir - pela 2ª vez - o actual Presidente da República romena. Fico descansado pois o governo romeno é dito como de centro-esquerda.

Miguel Relvas quis ter uma licenciatura como os demais mortais - quase todos - têem. Já tinha tentado várias vezes antes, chegou a completar uma cadeira, com nota dez, dirigiu-se à Lusófona e pediu que fosse feita uma coisa à medida. A resposta só pode ter sido "É para já!" pois a licenciatura demorou menos de um ano a acontecer. Querer aquilo que os outros já têm sem originalidade nem acrescento é um plágio como outro qualquer. Dentro desta lógica e na linha do que aconteceu já em vários países europeus - Alemanha, República Checa, etc. e está em curso na humilde Roménia, Miguel Relvas não deve demitir-se mas sim ser demitido.

Já de há muitos anos a esta parte não somos governados pelos "nossos melhores". Este é um problema que se estende à quase totalidade da Europa. No caso de Miguel Relvas ele é porém um dos "nossos piores". Sendo assim, não há limites?

terça-feira, 3 de julho de 2012

E agora, Vítor?

Este artigo faz tremer...