sexta-feira, 25 de março de 2011

A Insuficiência Cardíaca Biventricular ou a improvável defesa de um Bloco Central.

PS e PSD têm protagonizado nas últimas décadas um diálogo curioso para saber quem é o partido mais retintamente português.
Luta que se agudizou nos últimos tempos e paralelamente a alguma discreta mudança do paradigma sobre a definição do que é esta nossa gente, seus hábitos e expectativas. Dentro desta translação, o partido de José Sócrates, que eu me recuso a dar-lhe o nome de PS, pareceu durante algum tempo levar uma boa vantagem, conquistada, pareceu-me, com alguma aleivosia e bastante inconsciência, de parte a parte, que é como quem diz: de país para partido e de partido para país.
Fazendo agora um curto intervalo e rumando para os terrenos da fisiologia cardíaca, lembro ser o nosso coração constituido por duas aurículas e dois ventrículos, que se organizam sobretudo numa metade direita - a recebedora do sangue venoso e que o distribui para os pulmões - e numa metade esquerda - que o recebe oxigenado dos pulmões e o bombeia forte forte para todo o corpo.
Como já se adivinhou, aqui vem a analogia: é o PS o nosso coração esquerdo, sendo o direito o PSD. Ou não fosse o nosso coração afinal o bloco central que tudo orienta e ilumina, qual central eléctrica, através da chama acesa do oxigénio pulmonar.
Um adequado coração direito, o PSD, será então a base de trabalho, o fundo do saco que afinal o preenche até meio, sem o qual não se preenche nem funciona o coração. Um bom PSD é um bom retorno venoso e muito mais. Sem um bom PSD não se levantam as gentes, e está o coração de rastos. O PSD é o Norte de Portugal. O PSD é uma boa amizade.
O PS será, é o coração esquerdo porque nele - em tempos - já residiu a paixão, o fogo, o bombear sanguíneo que tudo preenche e mais ainda. O PS abraça - ou abraçava - calorosamente, com paixão, elevando as gentes ao alto, porque embora de mansinho o PS em tempos ainda acreditava no homem melhor. Um coração esquerdo fraco, discinético, isquémico, é risco de muita coisa, incluindo a morte. Onde não há PS não há imaginação, não há a melhor cor vermelha. Nem o calor do Sul afinal nos parece nosso. O que é um choque. E um coração em choque não irriga, não transmite, não ataca nem defende, é como se não existisse.
O PS actual está em choque: "como podemos ter e sobreviver a ter este líder?". E estamos nós em choque com ele. Talvez um bom retorno venoso - um bom PSD - nos safe desta por uns tempos, mas tenho as minhas dúvidas... e mais ainda sobre o PS que virá depois, e isto porque haverá um depois, não?

NB.: com isto esclareça-se que não estou a defender qualquer governo PS-PSD para agora... nem para depois!

Alea Jacta Est

Agora que Portugal está em falência técnica e política, tudo só pode melhorar. Só pode melhorar tudo! Circular pelas manhãs no sentido do emprego, da escola da filha, nestes últimos dois dias, permitiu-me ver ou adivinhar, o que vem a dar no mesmo, gente do meu país preocupada, tensa, falha de sorriso, mas aliviada. Eu ainda gosto da gente do meu país. Pelo menos duma maioria, que será talvez pequena mas ainda será a maioria. José Sócrates vai passar à história. E esta minha gente vai providenciar para que assim aconteça. Eles, os tensos, os preocupados mas de queixo levantado e prescrutando o ar em frente, os "portugueses de olhos castanhos", lembraram-me aquelas bulhas no recreio, quando o miúdo mau te encostava contra a parede e já não tinhas como escapar. Acossado e ferido, sabendo que não havia como fugir, lembravas-te de um ou dois truques - sendo a joelhada nos tomates uma boa opção, por ex. - e conseguias dobrar o mau, afugentá-lo, e ganhar o espaço suficiente para fugir, escpaar, ocasionalmente até quebrá-lo, atirá-lo ao chão. Depois gritavas a tua fuga, a possibilidade renovada de um dia novo, e punhas-te a correr, a beber as cores do recreio, e a buscar a felicidade.
Oportunidade única, esta. Talvez o meu país não a deixe fugir.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Só agora?

Bom, lá se vai o subsídio de férias... Ficasse o gajo uns meses mais e era o de Natal que marchava!

quinta-feira, 17 de março de 2011

E termino (infelizmente) citando Mário de Carvalho...

...que refere, a propósito de Cavaco: "Ele próprio fez parte de um conjunto de portugueses conformados e, posso mesmo dizer, que colaboraram, de forma passiva, com um dos regimes mais sinistros que houve na nossa História."
Mário de Carvalho, militante antifascista que viveu exilado até o 25 de Abril, e tiro-lhe o meu chapéu pelo facto, não consegue evitar aqui o complexo de superioridade que é intrínseco ao comunista que (ainda) é: "eu estive lá, eu resisti, eu vivi exilado! E tu, pequenino português? O que fizeste tu? Ao não fazer nada, colaboravas, era o que era, e foi!" Os comunistas sempre viram os que o não eram como colaboracionistas! Crime mais vil...
Eu, filho se calhar sem saber de um conformado e de um colaboracionista, vou já mudar de apelido para passar a chamar-me... Guilherme Carvalho, isso, isso, assim me permita o ilustríssimo, fora o mais um grande escritor.
Esta coisa dos dois Portugais já me anda a foder o juízo, porque de Espanha - o tal país que é dois - não sabeis da missa o intróito, e nem a nossa direita foi tão assassina nem a esquerda tão mártir assim, perdoem a correcção e a falta de respeito. Pessoas como Mário de Carvalho (que pena, amigo, é que escreve tão bem...) nunca perceberão, para o bem e para o mal, o Portugal do meio que no meio vai ficar e pronto, sendo tarefa nossa - de todos nós... - que esse meio seja um pouco melhor, um pouco mais alto, um pouco mais amplo... e com vistas!

Que fazer com esta mão esquerda?

Agora vou-vos aqui dizer porque não fui à manifestação "à rasca": porque não tive tempo, primeiro. Segundo, porque não quis ir a uma manifestação onde coincidisse com pessoas como a realizadora Raquel Freire, que, sobre as declarações de Cavaco diz: "Há um Portugal que ficou preso antes de 1974, pequenino, mesquinho, amedrontado, e um Portugal novo, que teve acesso a estudos e que já cresceu em liberdade. Para este Portugal, a defesa da guerra colonial e de uma missão patriótica é uma ofensa muito grave".
Passando por alto que eu não acredito muito nessa coisa das "missões patrióticas" - mas que as há, há... - o Portugal de antes do 25 de Abril produziu TODOS os génios que Portugal teve no século XX, nas mais diversas áreas, de Jorge de Sena a Orlando Ribeiro, desde Vitorino Nemésio a Vieira da Silva tenham ou não fugido, sido exilados, e pour cause digo eu que hoje Portugal é um País falho de génio. Não há nem um para amostra, talvez com a excepção de um, dois poetas...
Por outro lado, é o Portugal de depois do 25 de Abril, estudioso e letrado, ou pelo menos alguns elementos desse Portugal, que o tem/têm tomado de assalto e levado a esta desgraça em que estamos... senão, que idade tinham José Manuel Durão Barroso, José Sócrates, António Vitorino, António Costa, etc., no 25 de Abril, ou até para sermos mais... assertivos, que idade tinha Rui Pedro Soares? Era sequer já nascido?
Amiga Raquel, que bom foi não termos coincidido na manifestação, ...!

Cavaco e a Guerra do Ultramar.

Afinal também tivemos o nosso tsunami. Cavaco Silva, e ao ler um discurso para uma plateia de antigos combatentes, resolveu falar do presente "enrascado" que temos e decidiu dar como exemplo aos jovens de hoje os de ontem que "assumiram" a Guerra do Ultramar com "coragem", com "desprendimento" e com "determinação".
As reacções têm sido as mais desencontradas, e quase todas descabeladas. Um só dos entrevistados que li me pareceu razoável, ao lembrar que o "desprendimento" elogiado foi maioritariamente... obrigado! A maior parte dos jovens que foram combater para África, se pudessem ter escolhido não tinham ido! As imagens que eu lembro das famosas mensagens natalícias não eram de desprendimento, eram de rapazes metidos numa coisa em forma de guerra a milhares de quilómetros de casa, sendo que para muitos deles já uma ida a Lisboa era complicada, quanto mais... Coragem houve-a porque alternativa não havia, desprendimento sim, também, porque o regime mandou. Determinação também, em sobreviver àquela merda e tentar voltar inteiro para os seus, os a quem se desejava, com a lágrima ao canto do olho um "Ano Novo cheio de muitas propriedades!" Ah, o capitalismo selvagem já então à espreita...
Cavaco Silva, oficial miliciano em Lourenço Marques de 62 a 65, falou para uma plateia especial, mas sabia que tinha o país a ouvi-lo. Escolheu mal as palavras. Falta-lhe a espessura, a largueza de ombros e de carácter para abranger num discurso, menos ainda no seu olhar de português primeiro - que, infelizmente, o é - o que foi a Guerra do Ultramar. Não uma vergonha para o País, longe disso, mas uma página mais numa História que mais do que uma vez foi sede de um ou mais delírios. A Guerra do Ultramar talvez tenha sido o penúltimo dos nossos delírios, o último antagonicamente o PREC. Falta determinar se a nossa caminhada europeia para a prosperidade suiça, hoje em coitus interruptus, também preenche critérios para, ou não.
Voltando ao Ultramar, nem um olhar poliédrico poderá eventualmente abarcar todos os aspectos da Guerra. Uma nação pobre que o não quer ser e por isso defende os anéis. Que não seriam seus para começar, achados numa "rua da História" quatro séculos atrás... Uma nação missionária perdida no tempo em que as missões acabaram. Jovens quase analfabetos atirados para um continente estranho e um mato onde vão ter que matar para não morrer. Umas forças armadas mal armadas mas que aguentam três frentes e não desistem e até ganham. Mas onde estão os tais jovens oficiais que irão fazer o 25 de Abril. Um colonialismo brando (mas colonialismo), ocasionalmente feroz, vidé a reportagem recente sobre a revolta de 61 dos bacongos em Angola e a resposta dos colonos sem lei, ou o massacre de Wiriamu.
Outras coisas lembro: que um dois anos antes do 25 de Abril, a RTP ainda "chamava" gente para o vale do Zambeze, "terra de futuro"... E lembro-me também dos colegas do 5º ano (então 1º ano do Ciclo Preparatório) que em 75 recebi de Angola e de Moçambique, seus traumas, seus dramas. Alguns hoje meus amigos ainda. Tanta história por fazer, certamente. Onde a palavra "coragem" serve e bem, embora com nuances. Mas "desprendimento" não, nunca.
Ó Cavaco, cala-te, pois não sabes do que falas!

domingo, 13 de março de 2011

A bomba e o terramoto.

Eu pensava que quarta-feira passada tinha acontecido uma verdadeira bomba, sob a forma de um discurso de tomada de posse de um Presidente da República Portuguesa... Pois anteontem houve o tal terramoto no Japão, o tal 8.9.. e já toda a gente esqueceu o inútil discurso do nosso inútil Presidente...


P.S.: sugiro entretanto à geração "à rasca" que ontem se manifestou que tome de assalto, de preferência com manietação e sodomia, os partidos da Assembleia da República, e comece a fazer da política portuguesa uma coisa séria, algo que não acontece à - quê? - vinte, trinta anos?

quarta-feira, 2 de março de 2011

Duas ou Três Coisas Que Eu Sei Sobre os Genéricos.

Parece-me a mim que a generalidade das pessoas não captou a gravidade da notícia havida a 1/3 no jornal Público.
Levo uns anos migrando progressivamente as prescrições dos meus doentes dos fármacos de marca para medicamentos genéricos. Tendo o apoio científico e institucional que o Infarmed é suposto dar-me, certificando estas medicações como equipotentes, isto é, igualmente eficazes naquilo que é suposto elas tratarem, a saber: Hipertensão Arterial, Diabetes Mellitus, Dislipidemia, Insónia, Quadros Depressivos vários, Osteoporose, Hiperuricemia, Reumatismos, etc., etc.
Eu sei que crianças são crianças, eu sei que um transplante hepático é um transplante hepático. Mas... QUALQUER medicamento genérico aprovado pelo Infarmed, falando leigamente, não faz a mesma merda, seja o desinflamar de uma unha encravada, seja o imunossuprimir e defender um fígado transplantado? Estamos a brincar? Aparentemente estão, e com os meus doentes, os tais que confiam em mim e a quem eu pretendo aplicar o tratamento mais eficaz! O que aparentemente não está a acontecer porque eu agora receito-lhes... genéricos! Que parece que afinal não são tão bons como... serão apenas tipo 75%, 80%... Parece que poupar nas dezenas de milhar de doentes com os diagnósticos acima à custa de uma perda de eficácia... tudo bem! Embora isso possa significar um excesso de alguns milhares de AVC's/ano em Portugal, por exemplo, com todos os custos humanos e económicos que decorrem! Nas poucas (e obviamente muito infelizes) crianças que sofreram um transplante hepático, não! Nestas é que nãp podemos facilitar!
Mutias mais coisas haveria a dizer sobre esta notícia, onde gente vária me parece ficar mal parada. Mas o mais grave, o mais grave mesmo é isto: tenho EU, EU, autoridade moral para continuar a receitar genéricos aos meus doentes?